domingo, novembro 09, 2008

American Film Institute: um exemplo

A cinefilia não tem nada a ver com a adoração pueril dos filmes e seus protagonistas. É algo que começa no respeito pela história plural do cinema e passa, sempre, pelo labor pedagógico das memórias — este texto foi publicado no Diário de Notícias (8 de Novembro), com o título 'Memórias americanas'.

Desde o começo de Outubro, o American Film Institute tem estado a apresentar um ciclo de tributos a alguns filmes marcantes do último meio século. As sessões (no ArcLight Hollywood, em Los Angeles) têm uma particularidade: cada filme tem apresentação a cargo de um dos seus actores. Assim, por exemplo: West Side Story é apresentado por Rita Moreno, Tootsie por Dustin Hoffman, O Silêncio dos Inocentes por Jodie Foster, Beleza Americana por Annette Bening, Matrix por Keanu Reeves. Não é novidade nem, muito menos, exemplo exclusivo dos americanos. Mas vale a pena sublinhar o discurso inerente a este tipo de iniciativas. Trata-se, não de promover uma cinefilia beata e cada vez mais abstracta, mas sim de ligar os filmes aos seus protagonistas e, através deles, ao trabalho que os gerou. E é importante que estas memórias americanas celebrem o labor específico dos actores. A visão do cinema de Hollywood como uma mera acumulação de “efeitos especiais” é um disparate que importa combater, valorizando, antes de tudo o mais, as pessoas. Humanismo, precisa-se.