segunda-feira, outubro 20, 2008

O momento Colin Powell

A história dirá se este foi "o" decisivo turning point das eleições presidenciais americanas de 4 de Novembro de 2008. Em todo o caso, foi, sem qualquer dúvida, um dos seus momentos vitais: no programa matinal da NBC, Meet the Press, em entrevista a Tom Brokaw, o General Colin Powell veio expressar o seu apoio a Barack Obama. Na sua posição confluem pelo menos três factores politica e simbolicamente decisivos:
1) - a condição de militante do Parti-do Republicano;
2) - o facto de ter integrado, como secretário de Estado (2001-2005), a administração Bush, desempenhando um papel central na sua estratégia de combate ao terrorismo;
3) - ser afro-americano.
O mais espantoso na intervenção de Powell é que o seu discurso não passou pelo reforço, nem pela negação, de nenhum destes factores. Bem pelo contrário, e de acordo com uma lógica inerente à própria dinâmica ética e política de Obama, Powell veio falar de uma América que, para continuar a ser América, pode e deve repensar os seus parâmetros tradicionais. Neste aspecto, a sua reflexão sobre as "acusações" que pretendiam que Obama fosse um "muçulmano" constituem um notável exemplo de lucidez argumentativa:

>>> [...] Também me perturba, não o que diz o senador McCain, mas o que é dito por membros do partido. Permitem-se mesmo dizer coisas como, "Bem, como sabem o Sr. Obama é um muçulmano." Pois bem, a resposta correcta é que ele não é muçulmano, é cristão. Sempre foi um cristão. Mas a resposta realmente correcta é: e se fosse? Há alguma coisa errada com o ser muçulmano neste país? A resposta é: não, a América não é isso. [...]"<<<

Trata-se, afinal, de repor a possibilidade de uma América de integração, isto é, capaz de, antes de tudo o mais, lidar com as suas feridas internas. Para a história, foi assim.