Nina Hoss é a presença dominadora de Yella, um discreto, mas incisivo, filme alemão que empresta renovado valor à noção de retrato psicológico — este texto foi publicado no Diário de Notícias (3 de Outubro), com o título 'História de uma solidão alemã'.
Os filmes não se podem reduzir à sua sinopse. Mais do que isso: não devemos avaliá-los unicamente através do seu fim, não faz sentido “moralizar” uma história, seja em que sentido for, a partir do seu desenlace. Ainda assim, no caso de Yella é difícil não sentir que o carregado “simbolismo” da sua última cena joga contra o realismo austero de tudo o resto. Seja como for, é esse realismo que retemos de modo mais directo: a crueza de uma história centrada numa mulher, Yella, que tenta afastar-se do marido violento, mudando de cidade e construindo uma nova carreira profissional na área financeira.
Se tal ajuda a compreender o clima do filme, podemos evocar a referência tutelar de Michelangelo Antonioni e o tom dos seus revolucionários dramas sociais do começo da década de 60 (A Aventura, A Noite, O Eclipse). O realizador Christian Petzold, também autor do argumento (em colaboração com Simone Baer) procura a subtil contaminação da solidão das suas personagens e da frieza dos cenários em que se movem. Nestes espaços da mais absoluta despersonalização (veja-se a geometria cool do hotel em que Yella se instala), sentimos que as relações humanas, além de comandadas pelas leis impostas pela circulação do capital, vão dispensando mesmo os derradeiros fogachos de ternura.
Exemplo de um cinema minimalista, pelos meios e pela mise en scène, Yella é também um caso invulgar de qualidade de representação, com inevitável destaque para a notável protagonista, Nina Hoss. Pela tristeza dos seus olhos e pelo cansaço do seu corpo passam todos os sinais deste mundo comandado pela metódica cegueira do dinheiro. Actualíssimo, portanto.
Os filmes não se podem reduzir à sua sinopse. Mais do que isso: não devemos avaliá-los unicamente através do seu fim, não faz sentido “moralizar” uma história, seja em que sentido for, a partir do seu desenlace. Ainda assim, no caso de Yella é difícil não sentir que o carregado “simbolismo” da sua última cena joga contra o realismo austero de tudo o resto. Seja como for, é esse realismo que retemos de modo mais directo: a crueza de uma história centrada numa mulher, Yella, que tenta afastar-se do marido violento, mudando de cidade e construindo uma nova carreira profissional na área financeira.
Se tal ajuda a compreender o clima do filme, podemos evocar a referência tutelar de Michelangelo Antonioni e o tom dos seus revolucionários dramas sociais do começo da década de 60 (A Aventura, A Noite, O Eclipse). O realizador Christian Petzold, também autor do argumento (em colaboração com Simone Baer) procura a subtil contaminação da solidão das suas personagens e da frieza dos cenários em que se movem. Nestes espaços da mais absoluta despersonalização (veja-se a geometria cool do hotel em que Yella se instala), sentimos que as relações humanas, além de comandadas pelas leis impostas pela circulação do capital, vão dispensando mesmo os derradeiros fogachos de ternura.
Exemplo de um cinema minimalista, pelos meios e pela mise en scène, Yella é também um caso invulgar de qualidade de representação, com inevitável destaque para a notável protagonista, Nina Hoss. Pela tristeza dos seus olhos e pelo cansaço do seu corpo passam todos os sinais deste mundo comandado pela metódica cegueira do dinheiro. Actualíssimo, portanto.