domingo, outubro 05, 2008

Sarah Palin: o despertar dos monstros

Não seria inevitável. Mas era, infelizmente, previsível: a campanha McCain/Palin parece preparada para reforçar uma componente (até agora, apesar de tudo, contida) do seu discurso e começar a desencadear ataques "pessoais" contra Barack Obama. Aconteceu num comício no Colorado, com Sarah Palin a acusar o candidato democrata de cumplicidade com um "terrorista interno", mais precisamente William Ayers, membro do grupo Weather Underground que se opôs à guerra do Vietname.
Como esclarece a CNN, o Weather Underground, gerado no caldeirão da contra-cultura, foi de facto dado como associado à colocação de bombas, no início da década de 70, no Pentágono e no Capitólio. Em 1974, Ayers foi acusado de infracção da ordem pública e conspiração, mas o processo foi abandonado. Actualmente com 63 anos, é professor da Universidade de Illinois, em Chicago. Para sustentar a sua "denúncia", Palin citava um artigo de The New York Times que recorda a trajectória política dos dois homens e, em particular, a circunstância de, em 1995, ambos terem estado ligados a uma campanha de angariação de fundos para um projecto escolar e uma fundação humanitária.
Palin não só não referiu a especificidade desta relação pontual, como omitiu dois elementos do artigo: primeiro, que Obama é citado por The New York Times, considerando que Ayers é "alguém que se envolveu em actos detestáveis, quando eu tinha oito anos"; segundo, que The New York Times, aliás à semelhança de outros órgãos de informação (The Washington Post, Time, The Chicago Sun-Times e The New Yorker), conclui que não tinha qualquer fundamento a ideia segundo a qual Ayers e Obama teriam uma qualquer relação de proximidade.
Depois do confronto de ideias, assistimos, assim, ao despertar dos monstros da difamação. A menos de um mês (4 de Novembro) da eleição do Presidente dos EUA, isto significa que os próximos tempos poderão não ser muito edificantes. E que quem usar golpes baixos vai cobrar e ser cobrado por isso. Como disse um dos responsáveis do Partido Republicano: "Vamos ser um bocadinho mais duros" — disse-o à CNN e pediu anonimato.