Clássicos do Século XX - 2
'Nixon In China', de John Adams
1987
Primeira ópera assinada por John Adams (n. 1947), Nixon In China representou, juntamente com Einstein On The Beach, de Philip Glass, a fundação de uma nova relação do público dos nossos dias com o teatro musical. Peça claramente política, reflecte a histórica visita de Nixon à China de Mao Tse Tung em 1972. A música traduz ainda sinais da etapa inicial da obra de John Adams, recorrendo ainda a formas e heranças características do minimalismo (sugerindo ocasionalmente grande familiaridade com Philip Glass). Ópera em três actos, foi alvo de algumas sovas da crítica quando estreou, em Houston, em 1987. Mas 21 anos depois, acabou reconhecida como uma mais importantes óperas da segunda metade do século XX. E valeu-lhe, em 1989, o seu primeiro Pulitzer. A ópera conheceu uma primeira gravação em disco em 1988 pela Nonesuch, contando com as vozes de Stanford Sylvan (Chou En-Lai), James Maddalena (Nixon), Carolann Page (Pat Nixon), John Duykers (Mao Tse Tung). Edo de Waart dirige, nesta gravação, Orchestra of St Luke’s. O disco recebeu o primeiro Grammy atribuído a uma composição contemporânea.
O gosto pelos temas da política não é invulgar em John Adams. No seu site oficial, no qual se reconhece democrata de raiz, recorda que deu um aperto de mão a John F. Kennedy na véspera das primárias em New Hamphsire em 1960 e, também, como se empenhou pela candidatura de Eugene McCarthy em 1968. Como descreve nessa apresentação, “estava naturalmente em forma quando foi proposta em 1983 uma ópera sobre Richard Nixon, Mao Tse Tung, o capitalismo e o comunismo”. Contudo, a sua má relação com a memória da presidência de Nixon, e o que Adams descreve como as suas “rotinas” e “previsibilidade” poderia minar o projecto e, sobretudo, a busca de um ângulo de abordagem ao episódio de 1972 que o estimulasse. O libreto, assinado por Alice Goodman, resolveu o dilema, e a composição avançou. Encomenda da Brooklyn Academy of Music, o Houston Grand Opera e o John F. Kennedy Center For The Performing Arts, Nixon In China abriu novo espaço de exploração a temáticas do nosso tempo e definiu um rumo que, entretanto ganhou adeptos em outros compositores, sobretudo em Steve Reich (que nos últimos anos apresentou obras que tinham como objecto a ovelha Dolly ou a morte de Daniel Pearl).
Nixon In China foi a primeira ópera de John Adams e, também, a sua primeira incursão pelos domínios da política (e sociedade) enquanto ponto de partida para a criação artística. A sua segunda ópera, The Death Of Klinghoffer (1991) recorda o assalto ao Achille Lauro por terroristas palestinianos. A terceira, I Was Looking At The Ceiling And Then I Saw The Sky, cruza uma série de jovens, de origens sociais distintas, na Los Angeles do presente. On The Transmigration Of Souls (2002) evoca as vítimas do 11 de Setembro. Dr Atomic (2005), centra a acção em volta de Oppenheimer nas horas que antecederam a primeira explosão atómica, em 1945.
Um excerto da primeira cena do primeiro acto de Nixon In China. Escuta-se a fanfarra que acompanha a aterragem do avião presidencial, o Spirit of 76, ao que se segue o encontro entre os dois chefes de estado (Your Flight Was Good I Hope) e, depois, a reflexão de Nixon sobre o poder da notícia em News Has A Kind Of Mistery.