Ontem exibido no Queer Lisboa 12, Bi the Way (e não "By the Way"), de Brittany Blockmann e Josephine Decker, é um documentário que tem a seu favor a vantagem de nomear um tema — a bissexualidade — sem o encerrar em nenhum padrão, nem que seja meramente descritivo. Podemos considerar que as autoras teriam a ganhar se o seu trabalho fosse menos disperso e evitasse combinar o "fútil" com o "teórico". Seja como for, dele fica uma ideia vital (e muito criativa): a de que a "estranheza" da bissexualidade não se pode reduzir a um fenómeno biológico, muito menos moral, uma vez que passa sempre pela dificuldade de o dizer, de para ele encontrar palavras.
Sem dúvida por isso, o filme deixa-nos uma personagem inesquecível: o pequeno Josh Caouette, filho de Jonathan Caouette, realizador de Tarnation. Se este filme era um extremado exercício de uma intimidade registada, porventura construída, a partir da presença das câmaras, Josh expõe-se com uma naturalidade que nos desarma. Ele é, afinal, uma criança que confessa que, por causa do pai, pensou que estava a obrigado a "ser homossexual". Mais: que esse pensamento ocupou "dois anos" da sua vida, até que achou por bem distanciar-se e "viver a infância"... Mesmo sabendo que a vida adulta está para além deste desprendimento, algo de nós ambiciona reconquistar a sua liberdade com as palavras e as significações que elas arrastam. Só para conhecer Josh, vale a pena descobrir Bi the Way.