A ligação de Steven Spielberg [foto: com Tom Cruise, rodagem de Guerra dos Mundos] ou, mais concretamente, da DreamWorks ao grupo indiano Reliance parece ser capaz de alterar as regras do jogo em Hollywood — este texto foi publicado no Diário de Notícias (22 de Setembro), com o título 'Entre Hollywood e a Índia'.
Foi há quase 90 anos, a 5 de Fevereiro de 1919, que um cineasta (David W. Griffith) e três actores (Charles Chaplin, Mary Pickford e Douglas Fairbanks) fundaram os lendários estúdios da United Artists. Que é como quem diz: o desejo de os criadores do cinema americano controlarem a produção e difusão do seu próprio trabalho é tão velho como Hollywood. Voltou a ser assim quando, em 1969, Francis Ford Coppola lançou a American Zoetrope. E foi assim, uma vez mais, em 1994, com Steven Spielberg e os seus amigos David Geffen e Jeffrey Katzenberg a criarem o estúdio DreamWorks.
Que Spielberg tente agora recuperar o controlo da DreamWorks, eis o que não pode ser uma surpresa: afinal de contas, para ele, depois da passagem atribulada da DreamWorks pelo grupo Viacom, trata-se de repor os valores originais do projecto. Com a “pequena” diferença de, agora, se revelar essencial o financiamento proveniente da Índia, do grupo Reliance. O facto acrescenta uma nota irónica à situação (mesmo se podemos apostar que Wall Street estará a observar o processo com um estado de espírito em tudo alheio a qualquer forma de ironia) e permite-nos perceber a encruzilhada a que chegou esta indústria cinematográfica americana literalmente virada do avesso. É o resultado directo de se ter desenvolvido através de uma lógica dominada, não pelos artistas, mas por advogados e executivos de grandes companhias e grupos económicos.
Aliás, por estes dias, surgiu também a notícia de que Spielberg, associado a Peter Jackson (o cineasta de O Senhor dos Anéis), está a encontrar muitas dificuldades para consolidar o financiamento de um projecto de adaptação do Tintim, de Hergé, em animação digital. E quem recusa esse financiamento é a Universal, precisamente o estúdio ligado a grandes momentos emblemáticos do trabalho de Spielberg como E.T. (1982), Parque Jurássico (1993) e A Lista de Schindler (1993).
Dir-se-ia que tão agitada odisseia parece uma aventura filmada por... Spielberg. Seja como for, com ironia ou sem ela, não tenhamos ilusões: grande parte do futuro do cinema nos EUA vai depender do desenlace de toda esta agitação artística e financeira.
Foi há quase 90 anos, a 5 de Fevereiro de 1919, que um cineasta (David W. Griffith) e três actores (Charles Chaplin, Mary Pickford e Douglas Fairbanks) fundaram os lendários estúdios da United Artists. Que é como quem diz: o desejo de os criadores do cinema americano controlarem a produção e difusão do seu próprio trabalho é tão velho como Hollywood. Voltou a ser assim quando, em 1969, Francis Ford Coppola lançou a American Zoetrope. E foi assim, uma vez mais, em 1994, com Steven Spielberg e os seus amigos David Geffen e Jeffrey Katzenberg a criarem o estúdio DreamWorks.
Que Spielberg tente agora recuperar o controlo da DreamWorks, eis o que não pode ser uma surpresa: afinal de contas, para ele, depois da passagem atribulada da DreamWorks pelo grupo Viacom, trata-se de repor os valores originais do projecto. Com a “pequena” diferença de, agora, se revelar essencial o financiamento proveniente da Índia, do grupo Reliance. O facto acrescenta uma nota irónica à situação (mesmo se podemos apostar que Wall Street estará a observar o processo com um estado de espírito em tudo alheio a qualquer forma de ironia) e permite-nos perceber a encruzilhada a que chegou esta indústria cinematográfica americana literalmente virada do avesso. É o resultado directo de se ter desenvolvido através de uma lógica dominada, não pelos artistas, mas por advogados e executivos de grandes companhias e grupos económicos.
Aliás, por estes dias, surgiu também a notícia de que Spielberg, associado a Peter Jackson (o cineasta de O Senhor dos Anéis), está a encontrar muitas dificuldades para consolidar o financiamento de um projecto de adaptação do Tintim, de Hergé, em animação digital. E quem recusa esse financiamento é a Universal, precisamente o estúdio ligado a grandes momentos emblemáticos do trabalho de Spielberg como E.T. (1982), Parque Jurássico (1993) e A Lista de Schindler (1993).
Dir-se-ia que tão agitada odisseia parece uma aventura filmada por... Spielberg. Seja como for, com ironia ou sem ela, não tenhamos ilusões: grande parte do futuro do cinema nos EUA vai depender do desenlace de toda esta agitação artística e financeira.