Não tem nada de casual, e está muito para além dos cálculos políticos mais imediatos, que a figura de Abraham Lincoln (1809-1865) surja no imaginários das campanhas de Barack Obama e John McCain. De facto, se há figura que possa assumir a dimensão de modelo paterno da nação é, por certo, aquele que foi o 16º Presidente dos EUA (1861-65). Vale a pena lembrar, por isso mesmo, que a cristalização de Lincoln na memória mítica dos americanos passa também pelo cinema e, muito concretamente, por Young Mr. Lincoln (1939), a obra-prima de John Ford em que Henry Fonda [foto] assume os traços do jovem advogado que viria a tornar-se Presidente (o filme está editado em DVD com o título A Grande Esperança).
O filme de Ford condensa, em narrativa, o ideal de uma democracia que se quer consciente das contradições que abarca e, ao mesmo tempo, capaz de trabalhar no limite das tensões que tais contradições podem gerar. Sabemos que esse é um processo imenso, também ele contraditório e sempre inacabado. Por vezes, há acontecimentos singulares que, pelas suas componentes trágicas, podem gerar modelares efeitos de confluência e concordância. Hoje mesmo, por exemplo, os sites oficiais de Obama e McCain exibem, respectivamente, as chamadas de atenção cujas figuras aqui se reproduzem. Objectivo: mobilizar esforços para enfrentar os efeitos do furacão Gustav.