sexta-feira, agosto 01, 2008

Um olhar interior

Capítulo 27 - O Assassinato de John Lennon (no original apenas Chapter 27) não é, exactamente, um filme sobre a morte do ex-Beatle mas antes, e sobretudo, um olhar interior pela mente perturbada do seu assassino. Daí que Lennon seja, apenas, figura fugaz numa história na qual, na verdade, só surge no epílogo. Admirador dos Beatles e de Lennon em particular, Mark Chapman já havia passado por Nova Iorque numa ocasião anterior. Mas, até 8 de Dezembro de 1980, o seu contacto com Lennon nunca passara das espiras dos discos, do som dos aparelhos de rádio, de imagens na televisão ou de fotografias em jornais e revistas. Lennon não morara nunca na sua vida. Apenas a sua música e palavras. Na verdade, Lennon passa pela vida de Mark Chapman em apenas dois instantes. Na tarde de dia 8, quando lhe dá um autógrafo. Horas depois, quando é alvejado...
J. P. Schaefer, que se estreia na realização com este filme, parte dessa ideia e constrói uma narrativa que raramente escapa à figura de Chapman (magistralmente interpretado por Jared Leto) e aos seus demónios e conflitos interiores. Vemo-lo nos hotéis, em cafés e, sobretudo, à espera, à porta do Dakota, onde morava John Lennon. Sempre reflectindo consigo mesmo. Ocasionalmente, em diálogo com fãs (uma delas interpretada por Lindsay Lohan) ou com porteiros. Mas sempre à espera, com um sentido de missão que, na verdade, se conclui mas não explica. Porque, de facto, nunca foi justificada. Atento à biografia de Chapman, Let Me Take You Down (de Jack Jones), o filme tenta "entrar" na sua mente. Com curiosidade, talvez para o compreender, nunca para o justificar.
PS. Texto publicado no DN a 31 de Julho