Na cerimónia de encerramento dos Jogos Olímpicos, fazia-se zapping entre a RTP2 e o EuroSport e... Eu sei, eu sei: não tenho gosto nenhum em favorecer esse outro lugar-comum segundo o qual nas televisões é tudo "igual", e tudo igualmente "mau". E também sou sensível ao facto de não devermos menosprezar o esforço e o empenho daqueles canais em nos proporcionar tão magno es-pectáculo. Mas, que raio... já ninguém escuta?
Vêem-se atletas a entrar e uma voz diz-nos que os atletas estão a entrar... Vêem-se cantores a cantar e uma voz esclarece-nos que temos cantores a cantar... Vê-se fogo de artifício e uma voz informa-nos dessa imensa supresa que é o facto de estarmos a ver... fogo de artifício!!! Tudo isto significa medo. Medo de quê? Medo de deixar o acontecimento... acontecer. E de escutar, isto é, de saber aplicar o nosso próprio silêncio face à eloquência desse mesmo acontecimento.
Dito isto, registe-se o mais óbvio: para além do tenso pano de fundo político (que ninguém pretende esquecer nem simpli-ficar), a energia desportiva, devidamente combinada com os poderes do es-pectáculo, fizeram de Pequim 2008 um evento de enorme ressonância universal — a cerimónia de encerramento foi mais uma exemplar mise en scène de tal espírito. Fica, assim, o renovado apelo do desporto como factor criativo e "catalizador para a mudança". Esta expressão pertence a Sebastian Coe, antigo atleta e presidente do Comité Organizador dos Jogos Olímpicos de 2012 — vale a pena ler o seu artigo, hoje publicado no jornal The Observer.
A 30ª Olimpíada da era moderna inicia-se em Londres, a 27 de Julho de 2012.