O Estado Mais Quente, de Ethan Hawke, ou um actor que realiza um filme a partir de um romance que ele próprio escreveu — este texto foi publicado no Diário de Notícias (7 de Agosto), com o título 'Actores, actores'.
Uma clivagem radical no mundo do cinema (espectadores incluídos) é aquela que se estabelece entre as pessoas que gostam de actores e as que não gostam de actores. Não se trata da mera valorização de um actor como “bom” ou “mau” (tais diferenças são naturais e salutares). Trata-se, isso sim, de gostar ou não gostar de actores em função da extrema vulnerabilidade do lugar que ocupam: expostos ao olhar impiedoso da câmara e tentando “coincidir” com uma personagem exterior que, afinal, só pode existir no seu interior.
Ethan Hawke é um actor. E gosta de actores. Faz, assim, um filme que, sendo a história de um amor convulsivo, existe também como uma espécie de “reportagem” sobre actores empenhados em expor todas as emoções e fragilidades das respectivas personagens. Aliás, a figura central de O Estado Mais Quente, William (Mark Webber), é também ele um actor, dir-se-ia perdido no papel de amante que Sarah (Catalina Sandino Moreno) o “obriga” a desempenhar.
Hawke não se poupa nas referências cinéfilas, incluindo essa, mágica entre todas, de Esplendor na Relva (1961), de Elia Kazan. O seu trabalho é ainda o de um discípulo aplicado, mas convenhamos que envolve alguma coragem dispensar as “modernices” tecnológicas para se reivindicar de um dos génios do mais nobre cinema (de actores) de Hollywood. Por alguma razão, o próprio Hawke escolhe interpretar o pai de William, entregando o papel da mãe à sempre surpreendente Laura Linney [foto]. Só pelos seus cinco ou seis minutos no ecrã valeria a pena ver este filme.
Uma clivagem radical no mundo do cinema (espectadores incluídos) é aquela que se estabelece entre as pessoas que gostam de actores e as que não gostam de actores. Não se trata da mera valorização de um actor como “bom” ou “mau” (tais diferenças são naturais e salutares). Trata-se, isso sim, de gostar ou não gostar de actores em função da extrema vulnerabilidade do lugar que ocupam: expostos ao olhar impiedoso da câmara e tentando “coincidir” com uma personagem exterior que, afinal, só pode existir no seu interior.
Ethan Hawke é um actor. E gosta de actores. Faz, assim, um filme que, sendo a história de um amor convulsivo, existe também como uma espécie de “reportagem” sobre actores empenhados em expor todas as emoções e fragilidades das respectivas personagens. Aliás, a figura central de O Estado Mais Quente, William (Mark Webber), é também ele um actor, dir-se-ia perdido no papel de amante que Sarah (Catalina Sandino Moreno) o “obriga” a desempenhar.
Hawke não se poupa nas referências cinéfilas, incluindo essa, mágica entre todas, de Esplendor na Relva (1961), de Elia Kazan. O seu trabalho é ainda o de um discípulo aplicado, mas convenhamos que envolve alguma coragem dispensar as “modernices” tecnológicas para se reivindicar de um dos génios do mais nobre cinema (de actores) de Hollywood. Por alguma razão, o próprio Hawke escolhe interpretar o pai de William, entregando o papel da mãe à sempre surpreendente Laura Linney [foto]. Só pelos seus cinco ou seis minutos no ecrã valeria a pena ver este filme.