sábado, julho 12, 2008

Um sonho que ficou no apeadeiro

Paradigma do que então se designou por pop neo-romântica, um dos vários movimentos nascidos em clima pós-punk na Inglaterra de finais de 70 e inícios de 80, os Visage eram uma banda invulgar. No centro das atenções morava a figura de Steve Strange, um galês que chegara a Londres em finais de 70 e que começara a ganhar visibilidade nos circuitos periféricos da música e da noite, trabalhando com Malcolm McLaren, desenhando posters, organizando eventos... Mas o seu sonho era fazer uma carreira na música. Longe de dotado de uma grande voz ou mesmo especial talento na escrita e composição, Steve Strange era todavia um eficaz construtor de ideias. E em 1978, depois de fugaz passagem pelos Photons, juntou uma série de músicos para, em estúdio, dar corpo a uma ideia diferente de banda. Os músicos, esses vinham de bandas como os Rich Kids, Ultravox ou Magazine, entre eles encontrando-se figuras que dariam nas vistas pouco depois, como Midge Ure ou Barry Adamson. Depois de um primeiro single numa editora independente, o “momento” criado pelas noites Bowie na Londres de finais de 70 colocou Steve Strange no mapa das atenções. A Polydor assinou os Visage, que em 1980 se estreavam em grande com Fade To Grey, cimentando o nome da banda e estatuto com a edição de um álbum de estreia logo depois. Ao longo das próximas semanas aqui vamos evocar memórias dos Visage, grande parte delas centradas em volta do álbum The Anvil, de 1982, que acaba de ser reeditado com uma colecção de seis temas extra e um booklet invulgarmente informativo. Em concreto, começamos pelo single que então apresentou o segundo álbum dos Visage: The Damned Don’t Cry.



O teledisco de The Damned Don’t Cry foi uma das poucas concretizações de um projecto de filme que os Visage então projectavam fazer. Ideia megalómana, acabou na gaveta quando o sucesso do grupo provou não ser o monumento esperado... O sonho de levar os Visage ao grande ecrã ficou portanto no apeadeiro. Mas até nós chegou o teledisco, com travo algo... cinematográfico. E, diga-se, invulgarmente sofisticado para o que era habitual em 1982.