Se outras razões não houvesse para estar nas Curtas de Vila do Conde, a passagem de Love You More bastaria: em 15 prodigiosos minutos, a realizadora Sam Taylor-Wood conta a história do encontro amoroso de dois jovens — Andrea Riseborough e Harry Treadaway [foto] — que, em 1978, se ligam através da descoberta (e, antes disso, do roubo) do single Love You More, dos Buzzcocks.
Subitamente, deparamos com o fulgor mais primitivo do realismo britânico, não apenas pela arte obsessiva do deta-lhe (realista, of course), mas sobretudo porque essa é uma arte de descoberta das personagens na sua dimensão mais íntima, emocional e, neste caso, esplendorosamente sexual — hoje em dia, num tempo tão marcado por tantas representações grosseiras e "divertidas" da sexualidade dos jovens, é raro ver dois adolescentes retratados com esta intensidade e também, indissociavelmente, com tão laboriosa ternura.
Produzido por Anthony Minghella (o filme é dedicado à sua memória) e escrito por Patrick Marber (autor de Closer), Love You More deixa a marca indelével de um cinema tecido de uma carnalidade que recusa submeter-se a todas as facilidades figurativas que, por vezes, são induzidas pelo digital. Sam Taylor-Wood, convém lembrá-lo, é uma artista inglesa (nascida em Croydon, 1967) cujos trabalhos têm passado pela fotografia e pelo video (é dela um muito falado registo videográfico de David Beckham a dormir), e que, em 2001, dirigiu o magnífico teledisco de I Want Love, de Elton John, interpretado por Robert Downey Jr. — vale a pena rever o teledisco, começando com as explicações do músico e da realizadora.