sábado, julho 12, 2008

Wimbledon em tom épico

I. Walton, Getty - WIMBLEDON 2008

Dois grandes campeões — o espanhol Rafael Nadal [foto] e o suíço Roger Federer — defrontaram-se numa das mais emocionantes finais de Wimbledon, proporcionando também algumas longas e fabulosas horas de televisão — este texto foi publicado no Diário de Notícias (11 Julho), com o título 'Uma lição de ténis'.

No domingo, a final do Torneio de Ténis de Wimbledon (SportTV 1) terminou às 21h16, mais de sete horas decorridas sobre o seu início oficial. As interrupções motivadas pelos aguaceiros e, acima de tudo, o vaivém de pontos ganhos e perdidos entre Rafael Nadal e Roger Federer produziram um acontecimento épico, por certo a ser lembrado como um momento clássico na história gloriosa do famoso torneio londrino.
Foi, aliás, uma tarde (quase noite...) em que, por uma vez, os deuses, embora insistindo nas atribulações da chuva, não se esqueceram da televisão e da excelência que a pode enobrecer. Por um lado, a transmissão inglesa distinguiu-se por uma sobriedade pensada, programada e executada para celebrar o jogo; por outro lado, os comentários portugueses, a cargo de Luís Pessoa, foram um acontecimento de excepção: contidos mas sempre mobilizados pelas tensões do confronto, precisos nas informações, procurando de facto interessar o espectador e sabendo calar-se quando era importante deixar sentir o jogo, os seus ruídos e silêncios.
Foi uma locução que, também ela, fica para a história. Por contraste, permitiu perceber que as opções dominantes noutros desportos, com inevitável destaque para o futebol, justificam alguma pedagógica reavaliação. Provou-se que uma só voz a comentar pode ser muito mais interessante do que duas (por vezes, sente-se mesmo que uma dupla de comentadores se perde numa lógica de diálogo que, a pouco e pouco, mesmo sem os intervenientes se darem conta, os vai afastando das peripécias do jogo). Luís Pessoa mostrou algo de essencial, quer em termos televisivos, quer no plano da percepção técnica e humana do desporto: mesmo quando o discurso ensaia algum desvio (para recordar resultados, carreiras, ou até um simples fait divers), é fundamental não perder o contacto com o evento que temos nas imagens, valorizando-o e valorizando todas as suas subtilezas.
Foram horas e horas de ténis. Mas, como num filme épico de David Lean, o tempo pareceu saborosamente interminável. Afinal de contas, Lean era inglês e nasceu em Londres...