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Por um lado, este é um objecto que nos faz reencontrar o valor primordial, e eminentemente sensual, da fala no cinema de Eric Rohmer — lembremos o sentido mágico, paradoxalmente realista, dos seus "Seis Contos Morais", com inevitável destaque para essa hoje em dia quase invisível obra-prima que é A Minha Noite em Casa de Maud (1969). Os Amores de Astrea e de Celadon nasce de uma atitude contundente (mas também, à sua maneira, cândida) em que o cinema não teme a contaminação estética da palavra nem o valor primitivo da imagem como contemplação da natureza. Como sempre, o risco da modernidade enreda-se com a militante paixão do classicismo. É um dos grandes filmes do Verão. E, claro, um dos acontecimentos do ano cinematográfico.