Raras têm sido as novidades com real sabor a surpresa na Inglaterra pop/rock, departamento indie, nos últimos dois anos. Depois de feita banal a redescoberta das heranças pós-punk, uma entediante agenda de baralha e volta a dar tem dominado grande parte das novidades que dali têm chegado. De diferente, 2008 já nos deu os Last Shadow Puppets. E, agora, a eles junta a confirmação de que nos Wild Beasts (com carreira em singles desde 2006) se encontrou outro nome a justificar todas as atenções. Naturais de Kendal (no Norte de Inglaterra), com historial que sugere algumas pretensões “arty” - o nome da banda evoca directamente o movimento fauvista -, mostram todavia real capacidade em transformar em música essas mesmas intenções que desejam uma saudável afirmação de identidade. Como nos pintores fauvistas, a sua música traduz uma vivacidade cromática evidente e uma intensidade mais preocupada com o efeito que com o rigor da forma. Limbo, Panto está, todavia, longe de querer ser, em 2008, uma afirmação pop de uma breve herança que a história da arte nos deixou há precisamente um século. O álbum é uma intrigante colecção de canções dominadas por um intenso sentido cénico e que têm por protagonista o invulgar registo vocal de Hayden Thorpe, que cruza o firmamento dos tons e frequentemente usa o falsetto. Já surgiram comparações a Antony Hegarty, mas aqui estamos longe da sua intensidade dramática. Há instantes que evocam o tom barroco da pop de Klaus Nomi, todavia sem qualquer intenção operática. Mais próximo do tom informal de um Russel Mael (Sparks) ou Billy Mckenzie (Associates), Hayden usa antes a voz em favor de uma verdade pop em canções onde, na verdade, não mais encontramos que retratos mundanos de quem acabou de chegar à vida adulta sem querer, para já, perder os pequenos nadas de que a vida até aqui se fez. Entre um teatro de ideias e um festim de sensações revela-se um disco que pede atenção e que não se revela imediatamente.Wild Beasts
“Limbo, Panto”
Domino / Edel
4 / 5
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Os Ratatat são um duo nova-iorquino que tomou o desafio de fazer uma pop instrumental para electrónicas e guitarras como razão de ser. Ao terceiro álbum têm uma linguagem definida. E bastam alguns instantes de mergulho neste LP3 para se reconhecer que estamos, novamente, em território “familiar”. Na essência, o álbum segue exactamente o trilho onde o anterior Classics (de 2006) havia deixado a história. Uma vez mais um sentido de variedade é possível num mundo que, mesmo assim, limita os ingredientes a uma receita fixa: a guitarra, o banco de sons das electrónicas ao seu serviço e, como sempre, uma curiosidade pela exploração do ritmo. As composições são híbridos onde cabem referências pop, rock e hip hop. E onde as sugestões “exóticas”, quer através de linhas de melodia, quer sugeridas por sons ou mesmo padrões rítmicos, asseguram que a surpresa se revele a cada nova faixa. Há uma atitude subliminar a esta música que por vezes faz emergir características que lembram os ambientes criados pela música lounge... Uma música de elevador para a era da globalização, menos dada a exotismos kitsch, encontrando antes um apelo de design numa ideia tutti frutti onde uma atitude instrumental com personalidade marcada assegura a coesão de uma vasto cabaz de sabores feitos de som. Os Ratatat são tão herdeiros das arquitecturas electrónicas de uns Kraftwerk como fonte de reinvenção para personalidades da era das bandas sonoras das consolas de jogos. Sério mas informal, LP3 é prazer pop para saborear sem a obrigação de uma agenda ideológica ou temática. Há quem peça por vozes por aqui. Mas na verdade ao fazem falta. O que tinha sido mais bem-vindo era uma mão cheia de novas sugestões que não esgotassem o LP3 numa espécie de elegante irmão gémeo do LP2, de 2006...Ratatat
“LP3”
XL Recordings
3 / 5
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E eis que chega aos escaparates mais um disco a confirmar o “momento” que vive o novo pop/rock português. Chamam-se Feromona e apresentam-se como “power trio” já com cinco anos de história. Formados em Lisboa, juntam os irmãos Diego (voz e guitarras) e Marco (bateria, percussões e vozes) Armés a Bernardo Barata (baixo, guitarras e vozes), este último na banda desde 2005. Uma Vida a Direito sublinha e confirma o que nos últimos meses encontrámos em discos já editados e outros que vêm a caminho: o desafio de reinventar em português, e no presente, a assimilação de estímulos pop/rock (que necessariamente chegam de importação, já que a coisa rock’n’roll não nasceu por estes lados). Ao mesmo tempo, aqui se mostra, como se viu já noutros casos recentes, e contrariando o que antes parecia uma tendência quase inevitável, que há vida possível para uma identidade rock em português que não passa necessariamente pelos Ornatos Violeta (por marcante e importante que também seja essa escola, com descendências no presente que não são de desprezar, antes pelo contrário). Juntando várias fontes musicais de inspiração (os Strokes, inevitavelmente, lá acenam a dada altura – nada contra!), o álbum ganha as mais significativas marcas de personalidade no enfrentar da língua. Sobretudo no inventar de uma poética simples, directa, que não deixa dúvidas quanto ao potencial de musicalidade de uma língua que muitas vezes se diz “difícil”. Algo que aqui se mostra que assim não é... Uma Vida a Direito traz canções que sabem contar histórias. E que traduzem por vezes um certo sarcasmo que é arma útil quando se quer falar de um tempo, uma gente e um lugar. O álbum serve-se em dois formatos: o CD (nas lojas) ou o dowmload, gratuito (no site da banda). Não os ouvir é passar ao lado de um episódio importante na história do Portugal musical de 2008.Feromona
“Uma Vida a Direito”
Catadupa
3 / 5
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Chris Garneau foi, durante alguns meses, um dos segredos mais bem escondidos da nova música de autor norte-americana. Natural de Boston, com parte da infância vivida em França, estreou-se em finais do 2006 com um álbum no qual se revelava um espantoso autor e intérprete de canções frágeis, capazes de rapidamente cativar as atenções dos admiradores de uma música sóbria, elegante, distante dos climas e destinos dos sabores do momento. O Village Voice chegou a compará-lo com Rufus Wainwright. Mas, tirando eventuais semelhanças de personalidade e opções de foro pessoal, não há na verdade muito em comum entre ambos. Talvez, apenas, o gosto pela escrita ao piano, recuperando um sentido clássico na composição e um gosto quase teatral pela definição de ambientes que servem depois de moldura às canções. Garneau, todavia, sem o sinfonismo frequente em Rufus. Music For Tourists acaba de ser reeditado, com alinhamento ligeiramente diferente, mas que na essência mantém a alma e corpo do disco original. A fragilidade que domina estas canções onde mora a melancolia é sugerida por uma voz sussurrada, tímida, mas nem por isso menos expressiva. O piano é presença transversal a canções que frequentemente acolhem arranjos para corda. Mais que Wainwright, as referências que se revelam nas entrelinhas deste álbum apontam a nomes como os de Nina Simone, Eliott Smith ou Nico, confessando-se o cantor também um admirador de Jeff Buckley e Cat Power. Relief é um pequeno monumento que, todavia, não tem par no resto de um alinhamento que, mesmo feito de belas canções, peca por alguma falta de agilidade nas formas e arranjos finais.Chris Garneau
“Music For Tourists”
Absolutley Kosher
3 / 5
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Editado em 2006, o álbum de estreia a solo de Albert Hammond Jr, Yours To Keep, revelava algo para lá do que o guitarrista já nos havia mostrado enquanto membro dos Strokes. O disco traduzia aquela característica vontade em caminhar por trilhos diferentes aos percorridos na banda de origem que, frequentemente, justifica vivências a solo. Ou, talvez, uma cautela em não pisar terreno colectivo em aventura sem os demais parceiros a bordo. Disco essencialmente luminoso, traduzindo um reconhecido gosto por referências estruturais da identidade pop/rock americana (dos Beach Boys aos Velvet Underground), o álbum foi uma agradável surpresa. O regresso dos Strokes, em First Impressions Of Earth, devolveu-o a “casa”. E agora, ao chegar o anunciado segundo disco a solo, era natural que se aguardasse por boas novas... A novidade, contudo, não mora por aqui. Uma ou outra canção mostra uma vontade de cruzar uma atitude lo-fi mais directa com heranças new wave. Porém, é quando o músico elabora os arranjos acima do que é habitual no registo Strokes, que o disco ganha sentido. O que, na verdade, acontece poucas vezes. Na verdade, Como Te Lhama? mais não parece que uma colecção de sobras de sessões de ensaio dos Strokes. E chega mesmo a haver instantes nos quais a alma e som do grupo dominam os acontecimentos com, inclusivamente, o que parecem ser aproximações do próprio Albert Hammond Jr ao registo vocal de um Julian Casablancas. GFC, o single, é valente escorregadela no que, à partida, poderia ser seguro jogo “em casa”... Será o álbum uma chamada de atenção para quem deseja maior protagonismo na hora do reencontro? Esperemos que não... A bem de uma música que precisa de procurar novos azimutes, sob risco de se transformar em banda de tributo de si mesma.Albert Hammond Jr
“Como Te Lhama?”
Rough Trade
2 / 5
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Também esta semana:
Black Kids, Tricky, Melvins, Klaus Shultze, The Dodos, Unkle, Harold Budd, Spiritualized (ed local), David Bowie (reedição)
Brevemente:
14 de Julho: Patti Smith + Kevin Shields, Dead Can Dance (box set), Micah P Hinson, Wire, Carla Bruni, M Faithfull (live), Black Affair, The Hold Steady
21 de Julho: Dennis Wislon (ed nacional), Primal Scream, U2 (reedições), Nine Inch Nails, Cansei de Ser Sexy, Mr Scruff, Lykke Li, Forward Russia, Alva Noto, Nine Inch Nails, Paul Weller,
28 de Julho: Atlas Sound, Simian Mobile Disco, Sonic Youth
Julho: Jonathan Richman, Marc Almond (compilação), Billy Idol (best of),
Agosto: Teddy Thompson, Durutti Column (BSO), Elvis Presley (68 Comeback Special), Brazilian Girls, Connor Oberst, David Vandervelde, The Faint, Joseph Arthur, Stereolab, The Dandy Warhols, Lindstrom
Setembro: Brian Wilson, Giant Sand, Calexico, Okkervil River, Parenthetical Girls, The Cure, Mercury Rev, Morrissey