Decididamente, já não é preciso esperarmos por um novo filme de Nanni Moretti para acreditar que o cinema italiano não morreu — afinal de contas, vimos há poucas semanas, em Cannes, o espantoso Gomorra, de Matteo Garrone. Agora, chega às salas portuguesas O Meu Irmão É Filho Único, de Daniele Luchetti, filme que devolve ao melodrama familiar a sua honra perdida (ou difamada pela "crítica" que só sabe reproduzir os press releases das grandes produções americanas...).
Estamos, de facto, perante um espantoso exemplo de um cinema em que a atenção às convulsões sociais e a visão obsessiva dos laços familiares constituem duas vias complementares e mutuamente enriquecedoras. Se acrescentarmos que esta é também a história vibrante do amor/ódio de dois irmãos, um envolvido com os fascistas (Elio Germano), outro militante comunista (Riccardo Scamarcio), podemos perceber melhor como aqui renasce a grande tradição italiana pós-neo-realista, ligada a notáveis e esquecidos autores como Luigi Comencini ou Dino Risi. Será preciso acrescentar que, ainda na lógica dessa tradição, o trabalho dos actores é comovente de subtileza humana e complexidade emocional?