quinta-feira, junho 19, 2008

"Os Contemporâneos" + Jerry Lewis

A série Os Contemporâneos (RTP1) tem sido a prova real de que fazer humor não é o mesmo que acumular anedotas mais ou menos obscenas. E, em particular, fazer humor televisivo é saber trabalhar com as componentes específicas do próprio meio que se utiliza. As sequências que jogam com o espaço branco do estúdio podem servir de exemplo dessa atitude criativa: mais do que mero receptáculo de uma performance, o estúdio é, aqui, entendido, como uma paisagem de coordenadas em aberto, susceptível de ser ocupado como quem refaz a própria percepção — do seu trabalho e, por consequência, do olhar do espectador. Este é um quadro do primeiro programa da série (emitido a 4 de Maio) sobre o modo "correcto" de abordar os actores.



Lembrei-me de Jerry Lewis e, em particular, da sua capacidade de desafiar, por vezes de forma selvagem, as funções clássicas do estúdio de cinema (ou as funções do estúdio clássico de cinema). Em 1967, em momento de muitas revoltas, militâncias e discursos panfletários, Jean-Luc Godard escreveu mesmo que Jerry era o único cineasta "revolucionário" de Hollywood. Vale a pena rever esta cena que joga, justamente, com uma certa brancura do estúdio e as suas potencialidades de transfiguração. Não para construir "filiações" forçadas, muito menos para apresentar "cauções" artísticas: apenas porque, num caso como noutro, encenar é surpreender as certezas do nosso olhar — são cerca de 4 minutos e meio da obra-prima de 1961, The Ladies Man/O Homem das Mulheres.