domingo, junho 08, 2008
Visões de Coetzee, segundo Glass
Partir de um livro para dele criar uma ópera não constitui novidade na obra de Philip Glass. Textos de Doris Lessing ou Allen Ginsberg foram já alvo de abordagens várias, as duas criações para narrativas da escritora que em 2007 venceu o Nobel da literatura (The Making Of The Representative From Planet 8 e The marriages between zones three, four, and five ainda à espera de chegar, pela primeira vez, a disco). Waiting For The Barbarians representa mais uma materialização para música e palco de uma ideia nascida da leitura, em concreto, do romance com o mesmo título originalmente publicado em 1980 pelo escritor sul-africano John Coetzee, Nobel da literatura em 2003. Apesar de estreada em 2005, a ópera remonta a uma ideia de 1991, tendo logo o compositor contactado o escritor nesse mesmo ano com vista ao desenvolvimento de um primeiro esboço. A luta do oprimido contra o opressor já ocupara protagonismo numa outra ópera, Satyagraha (1980), a segunda da trilogia-retrato (que inclui Einstein On The Beach e Akhnathen). Aqui, sob libreto de Christopher Hampton, Glass procurou manter a essência do debate lançado no livro de Coetzee, libertando-a contudo das ligações de tempo e lugar, transformando-a numa alegoria universal e atemporal. Musicalmente é uma peça tensa, seguindo as sugestões de lirismo que a sua escrita operática já reflectiu em obras como O Corvo Branco ou La Belle et La Bête. E, como nesses dois casos, doseando momentos de deleite instrumental com sequências que conferem às vozes a missão de assegurar o desenvolvimento da narrativa. Depois de Les Enfants Terrribles e The Voyage, Waiting For The Barbarians é a terceira ópera que Philip Glass grava e edita através da sua própria editora: a Orange Mountain Music. Cantores, a orquestra e coro e Erfurt apresentam-se sob direcção do regular colaborador de Glass, o maestro Dennis Russel Davies.