Steven Spielberg está interessado em recuperar o controlo dos estúdios da DreamWorks, companhia que ele próprio fundou, em 1995, com David Geffen e Jeffrey Katzenberg — a notícia foi avança por The Hollywood Reporter.
É uma notícia que não podemos deixar de sentir atravessada por muitos subentendidos. Desde logo, porque a venda da DreamWorks à Paramount (grupo Viacom), consumada em 2006, veio pôr em causa a ideia fundadora de (re)criar o modelo clássico [United Artists] do estúdio de Hollywood controlado e gerido pelos próprios criadores. E também porque a estética do novo Indiana Jones no Reino da Caveira de Cristal deixou uma dúvida desconcertante: até que ponto a lógica criativa de Spielberg está a ser contaminada por outros valores de entertainment (nomeadamente na relação com os jogos de video), mais tipificados pelo seu associado e amigo George Lucas?
Como é óbvio, não se trata de colocar exactamente uma questão de (des)emprego seja de quem for. Muito menos de escassez de meios financeiros. Trata-se, isso sim, de perceber que a propriedade efectiva dos filmes — da pré-produção à difusão — constitui uma fundamental forma de poder, para mais no labirinto de Hollywood. A eventual (re)apropriação da DreamWorks por Spielberg constituirá um vector essencial na reconversão da paisagem do cinema americano, nomeadamente no seu futuro digital.