domingo, junho 15, 2008

Melancolia renascentista

No texto que apresenta o novo disco protagonizado pelo mais aclamado contratenor da actualidade recordam-se palavras que acompanhavam o título de Psalms, de William Byrd (1543-1623): “concebidas à medida das palavras”. A ideia pode aplicar-se, que nem uma luva, às várias peças de compositores seus contemporânos, que Andreas Scholl reuniu no disco que acaba de lançar pela Harmonia Mundi. Acompanhado pelo quarteto Concero di Viole (com quem já havia gravado dois discos) e pelo alaúde de Julian Behr, Scholl interpreta composições de compositores como, além do já referido Byrd, John Ward (1571-1638), Robert Johnson (1583-1633), Richard Mico (c. 1590-1661) e, entre outros mais, John Dowland (1563-1626). Este último acaba por ter considerável protagonismo num alinhamento que, de resto, colhe o título numa das suas composições aqui integradas. Crystal Tears oferece um breve retrato da música para voz e acompanhamento da Inglaterra renascentista e traduz uma superlativa forma de expressão de melancolia através da voz e dos instrumentos que a acompanham. Ao contrário dos compositores, os autores dos poemas em muitos casos não são conhecidos. Tal facto decorre do desejo de muitos deles, frequentemente de origem nobre, não desejarem tornar públicas as suas criações. Esta atitude nasce no seio de uma cultura aristocrata que considerava a poesia entre uma das artes a dominar pelo cidadão de berço nobre. Era ainda comum nesses dias, entre as famílias da aristocracia, a contratação de professores que ensinassem aos filhos a arte da música. O CD vem acompanhado por um DVD no qual um documentário de 20 minutos revela como nasceu o projecto aqui gravado e como decorreu o seu registo. Entre as revelações que o filme nos oferece fica clara a extrema concentração exigida ao cantor durante o processo de gravação.



“Teledisco” para Venus Birds Whose Mournful Tunes, de John Bennett, em interpretação de Andreas Scholl, com o Concerto di Viole.