Já sabíamos que a informação televi-siva é maioritariamente catastrofista, só sabe ver o mundo como uma permanente ilustração de um princípio de desastre — se ainda não nos caíu um avião dentro da sopa, convém não desesperarmos até sermos motivo de notícia...
Mas agora há um novo estilo: o da catástrofe anunciada. Exemplo: Noé Monteiro, repórter da RTP 1, em entusiasmado directo junto ao portão do aeroporto de Genève onde ele e alguns milhares de pessoas aguardavam a saída do autocarro da selecção portuguesa de futebol — como ele disse, quando o autocarro saísse, seria "a loucura total". Alguns minutos depois, as pessoas gritaram muito quando viram o autocarro, algumas delas berraram coisas indecifráveis directamente para a câmara e Noé Monteiro parece ter ficado satisfeito com a sua previsão. Além do mais, garantiu-nos ainda essa coisa mágica, não fôssemos nós menosprezar os grandes acontecimentos que mudam a vida da humanidade: o autocarro português saíu muito "mais devagar" que o autocarro da selecção turca... Pobres turcos!
Tudo isto aconteceu num "especial" sobre a chegada da selecção, durante 15 minutos, até à hora normal do Telejornal. Às 20h00, começou o dito Telejornal com... a repetição das imagens de Noé Monteiro e ainda de algumas outras reportagens sobre o dia da partida da selecção — tudo isso durou exactamente 18 minutos. Quando veio a primeira notícia do "outro" mundo, não era:
— o novo balanço do número de vítimas no sismo de Sischuan, na China;
— as eleições directas no PSD;
— a marcha contra a fome em Lisboa, Porto, Coimbra e Angra do Heroísmo.
A primeira notícia era sobre a queda de uma bancada no recinto de uma feira em Santiago do Cacém. Ainda por cima só com feridos ligeiros... Que pena! Foi só a loucura parcial...