domingo, junho 01, 2008

Tele-futebol

Eis uma família portuguesa segundo a televisão oficial do Euro 2008: são guerreiros de um carnaval em que cada um apenas se distingue por gritar mais que o outro (perversidade iconográfica: o punho erguido, ao centro na imagem, parece não pertencer a nenhum dos figurados).
Entretanto, hoje mesmo — 1 de Junho, por volta das 16h00 — todas as televisões ocupavam a sua emissão com imagens de um autocarro em andamento: era a selecção a caminho do aeroporto, de partida para a Suíça. Aí, depois da comitiva dar entrada na zona de embarque, grande parte dos presentes que vitoriavam a selecção, assumiram uma atitude sintomática: viraram-se para as câmaras de televisão e continuaram a gritar. Não podia haver ilustração mais clara do poder normativo do dispositivo televisivo: esse é um dispositivo que promove determinadas imagens, forçando os cidadãos incautos (isto é, filmados) a reproduzir tais imagens. Ironicamente, os responsáveis da informação televisiva dizem-nos que se limitam a "reproduzir" o que acontece à sua frente — julgam-se neutros e transparentes. Na melhor das hipóteses, são ingénuos; na pior, nunca reflectiram sobre a hipocrisia que favorecem.