Que a informação televisiva está doente — de credibilidade e... jornalismo —, eis o que pudemos confirmar de forma perversa nesta noite de domingo. Assim, na RTP1, no intervalo de Os Contemporâneos, surgiu mais um serviço "especial" dedicado ao Euro 2008. Ou seja, o habitual: muitos gritos, outros tantos lugares-comuns "patrióticos", "loucura total" e "vamos ser campeões". Com a mensagem desportiva (?) implícita: todos os outros são uns... tótós! A Itália campeã do mundo? A sofisticação da França? A força elegante da Alemanha? Até as reservas dos sub-17 davam cabo deles...
Não admira que uma tal lavagem ao cérebro, disfarçada de boletim "informativo", tenha parecido um (mau) sketch de Os Contemporâneos. Em relação aos quais, aliás, não necessitamos de exigir nenhum título futebolístico... O programa continua de vento em popa, com alguns momentos magníficos, desta vez lançados por uma cruel explicação didáctica de Bruno Nogueira sobre as virtudes da câmara lenta e o valor simbólico das imagens a preto e branco (tudo deliciosamente comentado por uma versão de It's Oh So Quiet, de Björk).
O sentido do espaço continua a ser exemplar, nomeadamente nessa abertura e na encenação da cena da irritação do primeiro-ministro, Nuno Lopes. Enfim, o capítulo final, mais uma vez centrado nos "conflitos internos", é uma boa ideia que continua a funcionar de forma desconcertante. E, depois da lista dos patrocionadores, ainda voltou a locutora Maria Rueff a tentar sustentar um telejornal destruído pela incompetência de Gonçalo Waddington, na pele de um irresistível técnico de som que, com tanta coisa que lhe passou pelos tímpanos, já passou para outra dimensão. O absurdo é que ficamos a compreender mais do nosso presente vendo Os Contemporâneos do que assistindo a um telejornal...