sexta-feira, junho 06, 2008

Da contundência crítica

Há uma diferença entre uma crítica maldosa e uma crítica cáustica — uma crítica maldosa (que, entenda-se, até pode ser muito favorável ao filme em causa) joga com aparências e extrapolações, tentando impô-las como evidências; uma crítica cáustica (mesmo arrasando o filme criticado) cola-se de tal modo ao objecto criticado que parece "impossível" descrevê-lo ou olhá-lo de outro modo. O texto de Anthony Lane sobre Sex and the City é uma pequena obra-prima de crítica cáustica — está na edição de 9/16 Junho da revista The New Yorker.
Vale a pena citar (sobre a falta de motivação da longa duração do filme):
> Duas horas e um quarto! Quando Garbo fez "Anna Karenina", em 1935, ela foi feliz, infeliz, amou, foi abandonada e ficou debaixo de um comboio em menos de cem minutos — por isso, que diabo, como é que as suas sucessoras serão capazes de encher o tempo?
E citar ainda, mas desta vez sem me atrever a violar a elegante contundência do original (sobre o desejo de Carrie/Sarah Jessica Parker ter um armário maior e com uma genial variação sobre a frase chave — "If you built it, they will come" — de Campo de Sonhos, com Kevin Costner):
> “When Samantha couldn’t get off, she got things,” Carrie says. Look at the beam in your own eye, sister. Mr. Big not only buys her a penthouse apartment (“I got it”), he offers to customize the space for her shoes and other fetishes. “I can build you a better closet,” he says, as if that were a binding condition of their sexual harmony: if he builds it, she will come.