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Durante o período que corresponde à I Guerra Mundial, o compositor húngaro
Béla Bartók (1881-1945) apresentou uma série de obras de grande envergadura, afirmando-se então como a principal figura musical viva do seu país. Nos seus dias de juventude, Bartók compôs inúmeras peças curtas, mas o apelo da Ópera, em Budapeste, era irresistível para qualquer compositor. Em 1911, iniciou a composição das suas duas primeiras obras, tendo em vista eventual estreia naquela sala. Contudo, as propostas de Bartók não corresponderam às prioridades da direcção do teatro, e continuaram a procurar ideias de programação noutros azimutes. O compositor esperou quase seis anos para, e já sob a ajuda de uma série de patronos interessados em ver as suas obras num grande teatro,
O Príncipe de Madeira, um bailado, conheceu a estreia na Ópera Real em Maio de 1917. O sucesso das apresentações desta primeira obra para palco permitiu a agenda, para o ano seguinte, da estreia da ópera
O Castelo do Barba Azul, com libreto de Béla Baláz, que já havia colaborado na escrita da ideia original na qual Bartók baseara o bailado
O Príncipe de Madeira. Estas duas obras acabam de conhecer edição na Naxos, em gravações pela Bornemouth Symphony Orchestra, dirigda por Marin Alsop. A mais recente das edições revela uma magnífica gravação do bailado
O Príncipe de Madeira, baseado numa história de fadas feita de sonhos e desencontros, de desencantos sucessivos (até ao inevitável
happy end, como mandava a norma). Com alma de poema sinfónico, esta é uma música eloquente, grandiosa nos momentos dos bailados principais, delicada em ocasiões descritivas das personalidades das personagens. Uma celebração da natureza, ocasionalmente atenta a sugestões melódicas escutadas na tradição
folk. E, há 90 anos, um primeiro sinal claro de que o grande talento de Bartók não se esgotaria na escrita para piano.