domingo, maio 18, 2008
Numa aldeia, à beira-mar...
Por variadas razões, Peter Grimes somou uma série de estreias, não esgotando contudo essas “primeiras vezes” as razões que de si fazem uma das peças centrais da obra do compositor inglês Benjamin Britten (1913-1976). Estreada em Junho de 1945, foi a primeira produção a subir ao palco em Londres depois do encerramento de palcos durante a guerra (gerando aclamação generalizada na crítica). Foi ainda a primeira que Britten projectou para a voz de Peter Pears, o tenor que recentemente conhecera e que foi depois o seu companheiro de uma vida. Peter Grimes reflecte ainda outra novidade: a chegada de Britten a uma nova vida numa pequena aldeia à beira-mar (regressado dos EUA onde havia residido desde 1939), ambiente no qual curiosamente se projecta também a acção desta ópera que, musicalmente, traduz a síntese de uma série de interesses e referências para o seu autor, da curiosidade pelas temáticas da morte mahlerianas às texturas de um Stravinsky. Inspirada por The Borough, uma colecção de poemas de George Crabbe publicada em 1810, sobre a vida numa pequena aldeia de pescadores, a ópera conta com libreto de Montagu Slater que, tal como Britten e Pears, constroem Peter Grimes como um ambíguo anti-herói que personaliza a luta do indivíduo contra as massas. Em Peter Grimes, em cujas entrelinhas mora uma crítica aos comportamentos da sociedade. Britten assina uma das suas mais marcantes obras. Musicalmente estimulante. Dramaticamente empolgante. A ópera regressa aos escaparates numa gravação de 1992 dirigida por Bernard Haitink, frente à orquestra e coro da Royal Opera House (em Covent Garden), com vozes como as de Anthony Rolfe Johnson (Grimes), Felicity Lott e Thomas Allen.