É apenas uma data, seca e automática, mas a sua sedução simbólica é inevitável — nascido a 16 de Abril de 1908, António Lopes Ribeiro faria hoje 100 anos (faleceu em 1995). Homem de muito talento e muitos conhecimentos, é um verdadeiro modelo da riqueza de uma geração (a mesma de Manoel de Oliveira), nascida com as convulsões do século XX e marcada pela dinâmica política de regimes que viram no cinema um instrumento ambivalente de mobilização popular e propaganda política. Lopes Ribeiro foi, aliás, uma personalidade decisiva numa dinâmica que envolve a criação da Tóbis (estúdio de exemplar modernidade no momento da sua criação, no começo da década de 1930) e o projecto do Estado Novo criar a sua própria "cinematografia".
Daí a multiplicidade dos seus re-gistos. Por um lado, dirigiu o filme que funcionaria como protótipo do (historicamente inconsistente) cine-ma de propaganda do Estado Novo: A Revolução de Maio (1937). Por outro lado, assinou aquela que é, muito provavelmente, a melhor comédia de toda a história do cinema português: O Pai Tirano (1941). Nos anos 60, a sua figura adquiriu peculiar di-mensão mediática com o programa Museu do Cinema, uma pérola de comunicação televisiva e divulgação cinematográfica (sobre a produção do tempo do mudo), simplesmente impossível na televisão democrática do nosso presente. Recordar António Lopes Ribeiro é, afinal, lidar com esse labirinto multifacetado da sua vida e obra. Ficam duas sugestões para uma possível entrada no seu universo: primeiro, o catálogo da Cinemateca Portuguesa, "António Lopes Ribeiro" (1983), organizado por José de Matos-Cruz [capa aqui em cima]; segundo, o artigo evocativo de Eurico de Barros, hoje publicado no Diário de Notícias.