Desapareceram recentemente dois nomes grandes do cinema inglês: Anthony Minghella e Paul Scofield. Como é que as televisões os recordaram?... Esqueceram-nos. Este texto foi publicado no Diário de Notícias (28 Março), com o título 'Os nossos mortos'.
Não creio que os obituários televisivos mais ou menos pomposos e angelicais tragam grande bem ao mundo. De facto, a obrigatória “purificação” post-mortem não será uma via inteligente, ou simplesmente útil, para lidar com as heranças, necessariamente plurais, por vezes contraditórias, dos nossos mortos.
Dito isto, confesso que me surpreendeu e desconcertou a quase indiferença, para não dizer o silêncio, com que as televisões generalistas portuguesas receberam os falecimentos de dois nomes grandes do cinema inglês: o realizador Anthony Minghella e o actor Paul Scofield (o primeiro a 18 de Março, o segundo no dia seguinte).
Para além do talento específico de cada um, não estamos a falar, entenda-se, de figuras secundárias ou esotéricas. Minghella, autor de títulos como O Paciente Inglês (1996), Cold Mountain (2003) ou Assalto e Intromissão (2006), assinou alguns filmes verdadeira-mente populares. Scofield, embora mais ligado a uma longa e importantíssima carreira teatral (nos palcos ingleses), tornou-se também uma figura conhecida do mundo dos filmes, tendo participado, por exemplo, em Henrique V (1989), de Kenneth Branagh, ou Quiz Show (1994), de Robert Redford. Além do mais, ambos eram “oscarizados”: Minghella pela realização de O Paciente Inglês; Scofield pelo papel de Thomas Moore, em Um Homem para a Eternidade (1966).
Infelizmente, o “esquecimento” de Minghella e Scofield é apenas um sintoma (mais um) da sistemática marginalização do universo cinematográfico. Em boa verdade, se o cinema passou a ter uma vida televisiva tão secundária, não surpreende que os seus mortos se tenham também... secundarizado. Na prática, é possível ver 20 vezes o último golo marcado por Cristiano Ronaldo, mas é quase impossível ter algumas palavras (e imagens) para evocar uma qualquer personalidade marcante do universo cinematográfico. Significa isto que, para os valores dominantes do jornalismo televisivo, o cinema deixou de pertencer aos temas realmente populares.
Não creio que os obituários televisivos mais ou menos pomposos e angelicais tragam grande bem ao mundo. De facto, a obrigatória “purificação” post-mortem não será uma via inteligente, ou simplesmente útil, para lidar com as heranças, necessariamente plurais, por vezes contraditórias, dos nossos mortos.
Dito isto, confesso que me surpreendeu e desconcertou a quase indiferença, para não dizer o silêncio, com que as televisões generalistas portuguesas receberam os falecimentos de dois nomes grandes do cinema inglês: o realizador Anthony Minghella e o actor Paul Scofield (o primeiro a 18 de Março, o segundo no dia seguinte).
Para além do talento específico de cada um, não estamos a falar, entenda-se, de figuras secundárias ou esotéricas. Minghella, autor de títulos como O Paciente Inglês (1996), Cold Mountain (2003) ou Assalto e Intromissão (2006), assinou alguns filmes verdadeira-mente populares. Scofield, embora mais ligado a uma longa e importantíssima carreira teatral (nos palcos ingleses), tornou-se também uma figura conhecida do mundo dos filmes, tendo participado, por exemplo, em Henrique V (1989), de Kenneth Branagh, ou Quiz Show (1994), de Robert Redford. Além do mais, ambos eram “oscarizados”: Minghella pela realização de O Paciente Inglês; Scofield pelo papel de Thomas Moore, em Um Homem para a Eternidade (1966).
Infelizmente, o “esquecimento” de Minghella e Scofield é apenas um sintoma (mais um) da sistemática marginalização do universo cinematográfico. Em boa verdade, se o cinema passou a ter uma vida televisiva tão secundária, não surpreende que os seus mortos se tenham também... secundarizado. Na prática, é possível ver 20 vezes o último golo marcado por Cristiano Ronaldo, mas é quase impossível ter algumas palavras (e imagens) para evocar uma qualquer personalidade marcante do universo cinematográfico. Significa isto que, para os valores dominantes do jornalismo televisivo, o cinema deixou de pertencer aos temas realmente populares.