quinta-feira, março 13, 2008

O exemplo da BBC

Hoje em dia, a singularidade de uma televisão — ou de um modo de pensar/fazer televisão — passa também pela Internet. Este é um texto (publicado no Diário de Notícias, 7 Março) sobre as recentes renovações do site oficial da BBC.

Vale a pena ir ao site da BBC2 e espreitar o video promocional de White, uma série documental que a estação britânica apresenta ao longo do mês de Março. O “branco” do título refere-se aos trabalhadores de cor branca, sendo o objectivo da série testemunhar e compreender um contexto em que o fluxo de imigrantes se transformou num elemento fulcral das dinâmicas económicas e sociais. De acordo com as sugestivas palavras do título do press release da BBC, trata-se de analisar “o que significa ser branco e trabalhador na Grã-Bretanha do século XXI”.
No video, há apenas um rosto branco [foto] sobre o qual, literalmente, várias mãos escrevem palavras “estrangeiras” que, a pouco e pouco, o vão confundindo com o fundo negro. Deparamos, assim, com um caso exemplar de uma arte de comunicar (e fazer televisão) em que o que se mostra não encerra a realidade numa lógica determinista. A imagem serve para pôr à prova os símbolos correntes, gerando o mais importante. Ou seja: a curiosidade de saber como é que o tema é abordado (seria, aliás, excelente que algum canal português se interessasse por esta série).
Mas não é apenas por isso que sugiro uma visita à BBC na Internet. Acontece que o respectivo site foi objecto de uma remodelação recente cuja exemplaridade importa celebrar. De facto, estamos perante uma oferta que se distingue por um estilo em que o rigor informativo não é incompatível (antes pelo contrário...) com a mais sóbria e elaborada sedução iconográfica.
Das convulsões da política internacional às últimas novidades do futebol inglês, a BBC reafirma as suas qualidades de estação de referência. Em páginas de um grafismo elegante e didáctico, deparamos com um site que pratica a informação televisiva a partir das imagens, como é óbvio, mas sem nunca esquecer o peso, a importância e o valor (in)formativo do texto. Em tempos de tantas “modernices” que levam a proclamar que “tudo é imagem”, esta serena valorização do texto constitui uma bela lição televisiva, mediática e cultural.