Ana Padrão e Michael Imperioli [foto], ambos tocados por uma comovente fragilidade, protagonizam aquela que é a melhor história da teia de histórias de que se faz o filme The Lovebirds, de Bruno de Almeida. Trata-se, aliás, de um objecto cinematográfico que trata os actores com grande delicadeza e carinho — e eles retribuem: Marcello Urgeghe (de uma intensidade simples e "natural"), Nick Sandow (vulnerável na sua fúria aparente), Fernando Lopes (afinal refazendo as intensidades dramáticas de alguns heróis dos seus próprios filmes), etc. Neste cruzamento de gente americana e gente portuguesa, Bruno de Almeida espelha a sua própria trajectória — Portugal/EUA/Portugal — para construir aquilo que talvez se possa definir como uma revisitação da dimensão romanesca, não necessariamente romântica, da cidade de Lisboa.
Apesar dos seus desequilíbrios interiores, The Lovebirds consegue essa proeza, simultaneamente ética e estética, de devolver ao tecido urbano uma pulsação humana que o liberta de muitos clichés preguiçosos de algum cinema português. Dir-se-ia que se trata de refazer uma Lisboa que retome a herança utópica do Cinema Novo dos anos 60, isto é, que tenha também o direito a existir fora dos estereótipos televisivos que nos cegam face ao real e ao irreal.
Tudo isto, apetece dizer, num envolvente tom de crueldade e ironia, como se fosse um fado. Por alguma razão é a voz de Camané que escutamos no genérico final de The Lovebirds, isto sem esquecer que o próprio Bruno de Almeida tem em fase de conclusão um filme sobre... Camané.
Tudo isto, apetece dizer, num envolvente tom de crueldade e ironia, como se fosse um fado. Por alguma razão é a voz de Camané que escutamos no genérico final de The Lovebirds, isto sem esquecer que o próprio Bruno de Almeida tem em fase de conclusão um filme sobre... Camané.