Por vezes, o lugar-comum feminista quer fazer crer que o universo das mulheres se repete, independentemente do lugar. Pelo contrário, a especificidade do feminino permite-nos perceber que a verdade da mulher passa sempre pelas singularidades do lugar e pelas estruturas de poder que sustentam o seu funcio-namento "normal". Caramel é um filme que, inteligentemente, se distancia da primeira hipótese, trazendo-nos notícias, histórias e emoções de um cabeleireiro de Beirute e das mulheres que nele se cruzam. Nadine Labaki, actriz, realizadora e co-autora do argumento, protagoniza assim um belo exemplo de uma produção libanesa (em associação com a França) sobre a qual ignoramos tudo ou quase tudo — este é, por isso, um filme que nos ajuda a essa tarefa nem sempre fácil, mas sempre saudável, que consiste em relativizarmos as "verdades" enraizadas no mundo em que vivemos. E atenção ao estranho, mas envolvente, romanesco que pressentimos na banda sonora de Khaled Mouzannar.