domingo, fevereiro 03, 2008

O sexo, aliás, o medo

Ano Madonna - 8
Sex, 1992


Editado a 21 de Outubro de 1992, o livro Sex (Warner Books) terá sido a obra de toda a carreira de Madonna que mais inimigos lhe criou. Porquê? Pelo carácter "provocatório" das imagens? Talvez, mas o certo é que as fotografias de Steven Meisel, muito ao contrário da pornografia dominante, recusam qualquer "verismo" simplista, antes afirmando-se através de uma luminosa e honesta teatralidade.
Ou ainda pelo desafio a todos os moralismos que queiram ver/represen-tar o sexo recusando a ambiguidade dos prazeres que o habitam e, mais do que isso, a pulsão de morte que o atravessa? Sim, sem dúvida por isso. Mas não através da obscenidade do "escândalo" pré-fabricado (obscenidade que, aliás, se tornou a lei dominante de muitas formas de jornalismo televisivo, sem que os guardiões dos bons costumes ao menos formulem alguma dúvida metódica sobre a sua pertinência informativa...). De facto, e como muito bem recorda a própria Madonna quando agradece o decisivo contributo de Meisel, tratava-se de colocar em cena (como num teatro de desejos, justamente) o medo inerente ao sexo — e a vertigem que o rasga.
Com a sua célebre capa metálica, fechado numa embalagem de papel de alumínio (com o rosto de Madonna a emergir a azul), Sex surgiu como um objecto que devolve o leitor à sua solidão: era preciso rasgar o papel e reconhecer que nenhuma imagem escapa ao labor metódico do fantasma. Num certo sentido, havia algo de infantil em todo o dispositivo (mediático, figurativo e narrativo) de Sex — como lidar com o medo que as histórias fazem? Ou ainda: como ter medo e continuar a contar histórias?