Em Fevereiro de 1992 compra mantimentos e prepara-se para a grande viagem. Chega a Fairbanks a 27 de Abril e, daí, procura boleia que o leve ao sopé das montanhas. Um camionista deixa-o na base de um trilho, que segue, a pé, até encontrar um autocarro abandonado, abrigo a caçadores no Verão. Com um saco de cinco quilos de arroz, um livro sobre plantas selvagens, uma espingarda (que lhe permitiu pequena caça ocasional) e vontade em vencer os desafios da natureza, Christopher McCandless - conhecido na sua vida nómada como Alex) - regista, sistematicamente, num diário, tudo o que faz, observa e sente. A 2 de Junho acaba de ler A Felicidade Conjugal, de Tolstoi. E conclui: "A única felicidade certa na vida é viver para os outros." Resolve regressar. Mas o desespero instala-se quando repara que o rio que passara a pé quando a neve cobria a região era, afinal, uma torrente rápida e perigosa. Inultrapassável. "Calamidade", escreve... Progressivamente mais fraco, escreve menos. Regista as últimas palavras a 12 de Agosto. Seis dias depois, o seu corpo, com apenas 30 quilos, é encontrado dentro do saco- -cama, no autocarro que habitou, solitário, entre as montanhas.
Jon Krakauer, que assinou em 1992, na Outside, um primeiro artigo sobre Christopher McCandless, caracteriza-o, n'O Lado Selvagem quer através de os relatos dos que o conheceram na estrada quer nas palavras que deixou nos seus registos. E assim relata uma aventura que mostra como a intensidade da crença de McCandless foi inversamente proporcional à sua real preparação para a tão sonhada odisseia. O filme segue as pistas do livro mas aproveita, como o próprio Christopher McCandless o fez, para fugir para espaços maiores de uma outra América que hoje pouco mora no cinema. Em ambos, a reflexão implícita sobre a demanda de um idealista que tinha tanto de ingénuo como de rebelde e que pagou com a vida real uma interpretação algo excessiva de palavras de ficção.
P.S. Versão editada e alterada de texto originalmente publicado no DN