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Outra importante âncora narrativa de Patti Smith: Dream Of Life é uma igualmente transversal passagem, ao longo de todo o filme, pela ideia da morte, não apenas como uma relação de perda, mas antes sendo a memória que fica entre os vivos. Patti Smith lembra o marido (Fred Sonic Smith), o irmão, William Burroughs, Hilly Krystal, Mapplethorpe... E visita os túmulos de alguns dos desaparecidos que mais a inspiraram, de Rimbaud a Blake. Na tarde do último visionamento, tinha aproveitado o tempo livre em Berlim para visitar a última morada de Bertold Brecht.
A música, naturalmente, tem evidente protagonismo no filme. Mas através das histórias contadas compreendemos que esse foi destino inesperado. Entre os episódios de música e palavra, destaque-se um informal dueto para duas vozes e duas guitarras acústicas com o velho amigo Sam Shepard ou, ao vivo, cenas de uma noite de música ao piano e poesia lida, ao lado de Philip Glass. Presente na sala, Patti Smith e o realizador assumiram este filme como uma parceria, uma colaboração (há imagens captadas pela própria cantora). Ou seja, aqui, o objecto é também veículo de observação. E o foco da atenção narrativa não se esgota no "eu", partilhando antes a curiosidade pelo outro. Imperdível!