De ondem vêm as intensidades desta imagem [ver maior, fazendo click]? Do realismo das coisas? Sim, sem dúvida. Mas importa dizer que o realismo não é mostrar "as-coisas-como-elas-são" — só alguns apresentadores de telejornais, excitados e infantis, continuam a acreditar nessa evidência automática do visível. O realismo é, antes de tudo o mais, a paixão pelo irredutível das coisas. Ou ainda: a consciência prática de que cada coisa que se filme é uma coisa que resiste a transformar-se em "prova", "símbolo" ou "mensagem" — cada coisa filmada é sempre o resto que o nosso olhar perdeu. Porque olhar é também reconhecer o estado de perda do nosso desejo de conhecer.
Assim nos desafia este filme admirável que é 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, conto negro sobre um grupo de personagens envolvidas num aborto clandestino em cenários da Roménia de meados da década de 1980. O realizador Cristian Mungiu consegue essa proeza sempre invulgar — porque ligada à crença mais primitiva do cinema — de nos fazer sentir que a verdade das coisas nasce de um movimento paradoxal de acumulação de dados e depuração de efeitos. Distinguido em Cannes/2007, este é um caso modelar de como é possível recusar as imposturas formais e a pornografia jornalística do "naturalismo" televisivo. Coragem era anular o telejornal e, no seu lugar, passar 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias.
Assim nos desafia este filme admirável que é 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, conto negro sobre um grupo de personagens envolvidas num aborto clandestino em cenários da Roménia de meados da década de 1980. O realizador Cristian Mungiu consegue essa proeza sempre invulgar — porque ligada à crença mais primitiva do cinema — de nos fazer sentir que a verdade das coisas nasce de um movimento paradoxal de acumulação de dados e depuração de efeitos. Distinguido em Cannes/2007, este é um caso modelar de como é possível recusar as imposturas formais e a pornografia jornalística do "naturalismo" televisivo. Coragem era anular o telejornal e, no seu lugar, passar 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias.