domingo, novembro 18, 2007

Recordar Ian Curtis (parte 3)

A rotina do casamento adensa o sentido de frustração em Ian Curtis por não ter nenhuma ligação e envolvimento na cena musical. Reza a mitologia que os primeiros passos para a aventura que meses depois se veio a chamar Joy Division são dados depois do marcante concerto dos Sex Pistols no Lesser Free Trade Hall de Manchester. Bernard Sumner e Peter Hook, respectivamente guitarrista e baixista, estão presentes. Deborah, no seu livro, conta que também ela e Ian lá estiveram... Mas em mais nenhum relato se fala da presença do futuro vocalista da Joy Division na sala (enfim, mitologias). O certo é que, semanas antes, Ian Curtis havia publicado um anúncio na imprensa musical no qual, assinando como Rusty, propunha a formação de uma banda. Obtém uma resposta, a de um guitarrista chamado Ian Gray. Juntos começaram a trabalhar e a circular na noite de Manchester, até que encontaram Sumner e Hook. A intensidade da relação musical com os novos amigos condu-los inevitavelmente no sentido da concretização do sonho de Ian: ter uma banda. Nesses dias, o casal Curtis muda-se para nova casa, em Macclesfield, na qual uma sala é guardada para uma nova função: a escrita e composição.

Ian Curtis, Bernard Sumner, Peter Hook e um primeiro baterista, Tony Tabak, apresentaram-se pela primeira vez em público a 29 de Maio de 1977 no Electric Circus como Warsaw, nome directamente inspirado no instrumental Warsawa, do álbum Low de David Bowie. A crítica no Sounds é desmotivadora. Mas Paul Morley, no NME, afirma que "existe uma faísca elusiva da dissemelhança nas bandas mais recentes que indica que têm ainda muito para mostrar. Gosto deles e irei gostar ainda mais daqui a seis meses". Paul Morley, descoberto numa fanzine e contratado pelo NME para retratar o que parecia uma invulgar agitação na cena musical de Manchester seria o "padrinho" da futura Joy Division na primeira liga da imprensa musical inglesa, um dos muitos parceiros de uma aventura colectiva que iria marcar a história da música. Desses primeiros tempos data ainda o contacto com Martin Hanett, que antes mesmo de surgir em estúdio como produtor, surge em cena como promotor de eventos, alguns dos quais com os iniciados Warsaw.

As canções dos Warsaw (que tinham encontrado novo baterista temporário em Steve Bothersdale) são ainda meros esboços de intenções, e as letras de Ian Curts primeiras manifestações de uma demanda pessoal. A energia da banda e a sua entrega compensam contudo as evidentes imperfeições. Um anúncio numa loja de música leva-os ao encontro com Steve Morris e este assume de vez o lugar de baterista. Ian trabalha, agora, como assistente social num centro de reintegração de deficientes perto de casa: Sumner trabalha em publicidade... Tentam uma primeira aparição televisiva na local Granada Television. E vêem-se brindados pelo entusiasmo da Virgin, que os grava ao vivo para uma compilação de talentos locais. Uma outra primeira gravação de quatro temas em nome próprio (com capa de Bernard com referências à imagética nazi e impressão a cargo de Steve) ocupa-os logo depois. O EP, de título An Ideal For Living assinala, em Janeiro de 1978, a mudança de nome de Warsaw para Joy Division.
(continua)