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Por vezes, o quotidiano parece fabricar estas pequenas fábulas, acidentais e, ao mesmo tempo, muito reveladoras. Como se compreenderá, não se trata de avaliar opiniões seja sobre o que for, ou seja de quem for... Trata-se, isso sim, de reconhecer que, em matéria de cinema, há quem tenha “opinião”, antecipada e automática, mesmo desconhecendo o filme em causa. O facto de se tratar de um filme português é irrelevante para o caso. Acontece apenas que algo está mal quando se desenvolve um “público” que julga conhecer aquilo sobre o qual nem sequer possui informação (ou cuja informação não lhe é dada).
Infelizmente, todos sabemos que este episódio, mesmo no seu aspecto mais caricatural, está longe de ser um caso isolado. De facto, a cinefilia clássica está decadente ou é, pelo menos, minoritária. O cinéfilo, convém lembrar, não é aquele que concorda com os críticos (afinal de contas, nem os críticos concordam entre si). É sim aquele que quer conhecer o cinema por aquilo que é e, acima de tudo, não o confunde com uma duplicação das mais medíocres formas televisivas de ficção.
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Será que o mercado e, sobretudo, os seus agentes caminham no sentido de “exterminar” o cinema? Não é um problema de competências, mas tão só uma questão de estratégias. Será que os decisores que trabalham no espaço do cinema acreditam que os filmes podem viver num regime que se limite a duplicar o estilo e o aparato dos fenómenos televisivos?
O espectador que julga saber tudo sobre os filmes de Oliveira é apenas a ponta de um estranhíssimo icebergue. Dir-se-ia que o mercado passou a viver da agitação periódica dos blockbusters, tentando pelo meio "salvar" os outros filmes. Acontece que nesse meio está a maioria dos filmes. E sem eles não é possível sustentar uma actividade cinematográfica economicamente sólida.