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A vaga do jornalismo mais medíocre não tem fronteiras. A sua regra nº 1 consiste em transformar qualquer evento — político, sexual, futebolístico...
seja o que for — em folhetim. Dito de outro modo: a lógica da telenovela, com as suas personagens estereotipadas e a sua dramaturgia pueril, prevalece aqui, transformando o mundo numa parada de peripécias " pitorescas" e o leitor num
voyeur compulsivo.
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Lá como cá, o caso do desaparecimento de Madeleine McCann ascendeu à condição de
serial cada vez mais vulgar na sua "espectacularidade" e mais gratuito nas suas especulações. Aliás, o que se está a passar é revelador da arbitrariedade deste modelo de "jornalismo" e do seu imenso menosprezo pelo
factor humano. De facto, não se trata de compreender seja o que for, muito menos de respeitar a ideia simples — mas filosoficamente vital — segundo a qual a complexidade do humano não se reduz a um jogo histérico de hipóteses mais ou menos sensacionalistas. O único princípio sistemático é o de criar verdadeiras
manobras de diversão que mobilizem os incautos consumidores — como quem dá um grito apenas para obrigar quem vai a passar do outro lado da rua a virar a cara... Depois, é sabido como o método gera a sua própria ideologia chantagista: se o "público" compra este tipo de (des)informação, então isso significa que é preciso reproduzir os seus mecanismos. Velha e cruel lição: o ódio ao pensamento só se alimenta de si próprio.