A ideia por detrás deste Bagatellen und Serenaden é do próprio Manfred Eicher (o “patrão” da ECM), que há muito tinha a vontade de criar um documento de Silvestrov como pianista. A sua obra para piano remonta a meados dos anos 50, desde então tendo o compositor criado uma série de pequenas peças, muitas delas miniaturas que acabou por nunca registar no papel, um pouco como algumas das criações de Schubert que tocava, ao piano, entre amigos, noite fora. Este conjunto de peças (que por vezes, de facto, evocam Schubert) esultam de ímpetos de criação melodista ditados por pequenas inspirações do momento. São momentos musicais, discretos, directos e, a uma primeira audição, de aparente simplicidade. Momentos que os dedos transformam em música nas teclas de um piano. São 14 autógrafos (na verdade 13, um deles com uma variação) de um compositor que, ele mesmo ao piano, nos dá evidenciando a sua interpretação suave, com um toque de delicadeza superlativo. Bagatelas que, como o próprio Silvestrov descreve, são “sublimes insignificâncias”, aqui captadas em sessões de gravação que decorreram sempre de manhã, bem cedo, ou ao fim da tarde. A segunda metade do disco reúne uma série de peças orquestrais recentes, que vincam a puslão dramática mahleriana que já se escutara em obras anteriores. Entre as peças destaca-se Zwei Dialogue mit Klavier (de 2001), dedicatória de Silvestrov ao seu amigo Arvo Pärt. E o assombroso Der Bote (1996), um percurso pelos afluentes do silêncio que lembra, se bem que sob linguagem Silvestrov (para piano e orquestra), o Pärt mais minimalista e discreto de Alina.
domingo, outubro 14, 2007
Sublimes insignificâncias
O catálogo da ECM tem contribuído significativamente para a apresentação s públicos ocidentais da obra de um dos mais notáveis compositores ucranianos contemporâneos. Valentin Silvestrov (n. 1937) tem já sete títulos no catálogo da editora, entre os quais o histórico ciclo Silent Songs, por si composto para ser apenas tocado em casa de amigos, em privado, entre 1975 e 75 quando, ao ser confrontado com uma ameaça de expuslão do sindicato dos compositores (na antiga URSS) optou pela retirada em vez de se submeter a uma indesejada mudança de estilo. Na sua música destaca-se uma evidente paixão pela contemplação melodista, que muitas vezes ecoa memórias de grandes mestres do romantismo, em particular Mahler, assim como é clara uma intenção textural quase cenográfica que muitas vezes sugere imagens, lugares. Há quem o aponte numa encruzilhada, de grande sentido de liberdade, é certo, entre o melodismo romântico, uma eventual atenção pela atonalidade modernista e frequente estratégia minimalista na abordagem às ideias musicais. Este ano, depois de editada uma soberba Sinfonia nº 6 (também pela ECM), eis que o reencontramos num disco onde o piano é protagonista mas que também assegura mais um contacto com o Silvestrov orquestral mais melancólico e paisagista. E que assinala, da parte da editora, uma forma de marcar o 70º aniversário do compositor.
A ideia por detrás deste Bagatellen und Serenaden é do próprio Manfred Eicher (o “patrão” da ECM), que há muito tinha a vontade de criar um documento de Silvestrov como pianista. A sua obra para piano remonta a meados dos anos 50, desde então tendo o compositor criado uma série de pequenas peças, muitas delas miniaturas que acabou por nunca registar no papel, um pouco como algumas das criações de Schubert que tocava, ao piano, entre amigos, noite fora. Este conjunto de peças (que por vezes, de facto, evocam Schubert) esultam de ímpetos de criação melodista ditados por pequenas inspirações do momento. São momentos musicais, discretos, directos e, a uma primeira audição, de aparente simplicidade. Momentos que os dedos transformam em música nas teclas de um piano. São 14 autógrafos (na verdade 13, um deles com uma variação) de um compositor que, ele mesmo ao piano, nos dá evidenciando a sua interpretação suave, com um toque de delicadeza superlativo. Bagatelas que, como o próprio Silvestrov descreve, são “sublimes insignificâncias”, aqui captadas em sessões de gravação que decorreram sempre de manhã, bem cedo, ou ao fim da tarde. A segunda metade do disco reúne uma série de peças orquestrais recentes, que vincam a puslão dramática mahleriana que já se escutara em obras anteriores. Entre as peças destaca-se Zwei Dialogue mit Klavier (de 2001), dedicatória de Silvestrov ao seu amigo Arvo Pärt. E o assombroso Der Bote (1996), um percurso pelos afluentes do silêncio que lembra, se bem que sob linguagem Silvestrov (para piano e orquestra), o Pärt mais minimalista e discreto de Alina.
A ideia por detrás deste Bagatellen und Serenaden é do próprio Manfred Eicher (o “patrão” da ECM), que há muito tinha a vontade de criar um documento de Silvestrov como pianista. A sua obra para piano remonta a meados dos anos 50, desde então tendo o compositor criado uma série de pequenas peças, muitas delas miniaturas que acabou por nunca registar no papel, um pouco como algumas das criações de Schubert que tocava, ao piano, entre amigos, noite fora. Este conjunto de peças (que por vezes, de facto, evocam Schubert) esultam de ímpetos de criação melodista ditados por pequenas inspirações do momento. São momentos musicais, discretos, directos e, a uma primeira audição, de aparente simplicidade. Momentos que os dedos transformam em música nas teclas de um piano. São 14 autógrafos (na verdade 13, um deles com uma variação) de um compositor que, ele mesmo ao piano, nos dá evidenciando a sua interpretação suave, com um toque de delicadeza superlativo. Bagatelas que, como o próprio Silvestrov descreve, são “sublimes insignificâncias”, aqui captadas em sessões de gravação que decorreram sempre de manhã, bem cedo, ou ao fim da tarde. A segunda metade do disco reúne uma série de peças orquestrais recentes, que vincam a puslão dramática mahleriana que já se escutara em obras anteriores. Entre as peças destaca-se Zwei Dialogue mit Klavier (de 2001), dedicatória de Silvestrov ao seu amigo Arvo Pärt. E o assombroso Der Bote (1996), um percurso pelos afluentes do silêncio que lembra, se bem que sob linguagem Silvestrov (para piano e orquestra), o Pärt mais minimalista e discreto de Alina.