Miséria do jornalismo global.
Ou miséria global do jornalismo.
Em muitos casos, a notícia da saída de Madonna do grupo Warner e da sua passagem para uma nova editora, Live Nation (entidade maioritariamente ligada à organização de espectáculos e eventos do mundo do entertainment) foi tratada como um caso de avareza pessoal. Justificação para isso? Os milhões envolvidos... Como se, num mundo cada vez mais globalizado, o património de um nome de ressonância realmente planetária (p. ex.: a música de Madonna, as gravações de Leonard Bernstein ou os livros de Salman Rushdie) pudesse ser um negócio caritativo de boas vontades. Como se uma carreira que se mede por mais de 200 milhões de álbuns vendidos pudesse ser medida noutra escala que não fosse essa, a dos milhões... Ao que parece, vão ser 120 milhões de dólares (85 milhões de euros), nisso se envolvendo a produção de três álbuns, espectáculos e gestão de merchandising.
Face ao moralismo dominante, poucos entenderam que, de facto, o novo contrato de Madonna tem a ver com uma nova época, a mesma que está marcada, por exemplo, pela opção dos Radiohead, lançando o seu novo álbum com o preço... em aberto. De facto, a importância da difusão digital, a par do renovado e paradoxal crescimento do valor das performances ao vivo, está a reconfigurar todos os mercados da música e, em boa verdade, todos os mercados culturais.
No meio desta conjuntura de notícias "automáticas" e maniqueístas, ainda menos são os que se têm preocupado em referir que Madonna concluiu o seu documentário sobre a situação das crianças órfãs do Malawi: chama-se I Am Because We Are (expressão extraída de um discurso do arcebispo sul-africano Desmond Tutu) e nele se dá conta da situação de um milhão de crianças que perderam os pais por causa do VIH e da sida — o lançamento do filme está anunciado para 2008 e reflecte o trabalho da organização humanitária Raising Malawi, que conta com o patrocínio de Madonna.
PS - Nada disto envolve nenhuma consideração específica (além do mais, impossível neste momento) sobre o filme que Madonna já anunciou. Trata-se apenas de sublinhar, uma vez mais, como a lógica global de (des)informação se faz de muitas simplificações e omissões. Compreender o mundo é receber as notícias, mas é também, incessantemente, interrogá-las — não apenas em termos de "verdade" ou "mentira", mas também a partir das suas opções, do que nelas se diz, do modo como se diz e ainda, sempre, daquilo que nelas se cala.
Em muitos casos, a notícia da saída de Madonna do grupo Warner e da sua passagem para uma nova editora, Live Nation (entidade maioritariamente ligada à organização de espectáculos e eventos do mundo do entertainment) foi tratada como um caso de avareza pessoal. Justificação para isso? Os milhões envolvidos... Como se, num mundo cada vez mais globalizado, o património de um nome de ressonância realmente planetária (p. ex.: a música de Madonna, as gravações de Leonard Bernstein ou os livros de Salman Rushdie) pudesse ser um negócio caritativo de boas vontades. Como se uma carreira que se mede por mais de 200 milhões de álbuns vendidos pudesse ser medida noutra escala que não fosse essa, a dos milhões... Ao que parece, vão ser 120 milhões de dólares (85 milhões de euros), nisso se envolvendo a produção de três álbuns, espectáculos e gestão de merchandising.
Face ao moralismo dominante, poucos entenderam que, de facto, o novo contrato de Madonna tem a ver com uma nova época, a mesma que está marcada, por exemplo, pela opção dos Radiohead, lançando o seu novo álbum com o preço... em aberto. De facto, a importância da difusão digital, a par do renovado e paradoxal crescimento do valor das performances ao vivo, está a reconfigurar todos os mercados da música e, em boa verdade, todos os mercados culturais.
No meio desta conjuntura de notícias "automáticas" e maniqueístas, ainda menos são os que se têm preocupado em referir que Madonna concluiu o seu documentário sobre a situação das crianças órfãs do Malawi: chama-se I Am Because We Are (expressão extraída de um discurso do arcebispo sul-africano Desmond Tutu) e nele se dá conta da situação de um milhão de crianças que perderam os pais por causa do VIH e da sida — o lançamento do filme está anunciado para 2008 e reflecte o trabalho da organização humanitária Raising Malawi, que conta com o patrocínio de Madonna.
PS - Nada disto envolve nenhuma consideração específica (além do mais, impossível neste momento) sobre o filme que Madonna já anunciou. Trata-se apenas de sublinhar, uma vez mais, como a lógica global de (des)informação se faz de muitas simplificações e omissões. Compreender o mundo é receber as notícias, mas é também, incessantemente, interrogá-las — não apenas em termos de "verdade" ou "mentira", mas também a partir das suas opções, do que nelas se diz, do modo como se diz e ainda, sempre, daquilo que nelas se cala.