Este texto foi publicado na revista de televisão do Diário de Notícias (29 de Junho), com o título 'Vive-
mos num "YouTube" global?' >>> No momento em que escrevo, permanece em suspenso a si-tuação de Alan Johnston, jorna-lista da BBC, raptado a 12 de Março na Faixa de Gaza. A 1 de Junho, o grupo de raptores (Exército do Islão) divulgou um vídeo em que Johnston dizia que estava a ser bem tratado. No dia 25, surgiu um segundo vídeo do jornalista, agora envergando um colete-bomba, ao mesmo tempo que era reivindicada a libertação do radical islâmico Abu Qatada, preso no Reino Unido e suspeito de ligações Al-Qaeda.
O espaço mediático em que vivemos é feito destes bizarros desequilíbrios sobre os quais pouco, ou nada, reflectimos. Dito de outro modo: uma agressão como esta, alheia a todas as normas básicas da convivência democrática, encontra via aberta para a sua imediata difusão televisiva e, no limite, planetária. E escusado será sublinhar que o facto de o sujeito agredido estar ligado a uma entidade como a BBC lhe confere também (como os agressores bem o sabem) a dimensão de símbolo das democracias ocidentais.
Não é simples lidar com isto. Acima de tudo, não é possível reduzir tão complexa questão ao voluntarismo dos que, embora em nome de ideais democráticos (obviamente, não é isso que está em causa), se enredam no maniqueísmo do que se "deve" ou "não deve" mostrar.
Algo da informação televisiva contemporânea vive desta delirante lógica de YouTube global que integra e, por assim dizer, sublinha tudo o que possa conter algo de panfletário. Repare-se como muitos discursos publicitários são de natureza panfletária: os potenciais consumidores são apresentados como aqueles que reivindicam algo que lhes falta e limita a sua identidade. Como? Ansiando pelo produto publicitado.
Claro que não é possível confundir a mediocridade de um discurso publicitário com as notícias mais trágicas do nosso quotidiano. O que está em causa é de outra natureza. A saber: onde acaba a televisão como "janela aberta sobre o mundo" e começa a informação como parada de atracções desligadas de qualquer contexto?
mos num "YouTube" global?' >>> No momento em que escrevo, permanece em suspenso a si-tuação de Alan Johnston, jorna-lista da BBC, raptado a 12 de Março na Faixa de Gaza. A 1 de Junho, o grupo de raptores (Exército do Islão) divulgou um vídeo em que Johnston dizia que estava a ser bem tratado. No dia 25, surgiu um segundo vídeo do jornalista, agora envergando um colete-bomba, ao mesmo tempo que era reivindicada a libertação do radical islâmico Abu Qatada, preso no Reino Unido e suspeito de ligações Al-Qaeda.
O espaço mediático em que vivemos é feito destes bizarros desequilíbrios sobre os quais pouco, ou nada, reflectimos. Dito de outro modo: uma agressão como esta, alheia a todas as normas básicas da convivência democrática, encontra via aberta para a sua imediata difusão televisiva e, no limite, planetária. E escusado será sublinhar que o facto de o sujeito agredido estar ligado a uma entidade como a BBC lhe confere também (como os agressores bem o sabem) a dimensão de símbolo das democracias ocidentais.
Não é simples lidar com isto. Acima de tudo, não é possível reduzir tão complexa questão ao voluntarismo dos que, embora em nome de ideais democráticos (obviamente, não é isso que está em causa), se enredam no maniqueísmo do que se "deve" ou "não deve" mostrar.
Algo da informação televisiva contemporânea vive desta delirante lógica de YouTube global que integra e, por assim dizer, sublinha tudo o que possa conter algo de panfletário. Repare-se como muitos discursos publicitários são de natureza panfletária: os potenciais consumidores são apresentados como aqueles que reivindicam algo que lhes falta e limita a sua identidade. Como? Ansiando pelo produto publicitado.
Claro que não é possível confundir a mediocridade de um discurso publicitário com as notícias mais trágicas do nosso quotidiano. O que está em causa é de outra natureza. A saber: onde acaba a televisão como "janela aberta sobre o mundo" e começa a informação como parada de atracções desligadas de qualquer contexto?