Texto publicado no Diário de Notícias (revista 'NS', 30 de Junho), com o título 'O gosto da experimentação' >>> Não deixa de ser desconcertante, mas é um facto: quase sempre, quando evocamos os autores marcantes da Nova Vaga, temos tendência a esquecer ou secundarizar o nome de Alain Resnais. E, no entanto, a sua obra é indissociável das transformações por que passou a produção francesa nos anos 50/60. É certo que Resnais (nascido em 1922, na Bretanha) começou ainda na década de 40, como documentarista, mas bastaria um título marcante como Hiroshima, Meu Amor (1959) para fazer dele uma figura de referência do moderno cinema europeu.
Agora, com esta preciosa edição de uma caixa com cinco filmes, podemos redescobri-lo e, acima de tudo, compreender como ele nunca deixou de ser um experimentalista paciente e ousado como poucos (a edição inclui sexto disco, só de extras, com uma entrevista audio com Resnais e um depoimento de João Mário Grilo). Estamos perante os cinco títulos que Resnais assinou ao longo da década de 80, numa época em que, pelas mais variadas razões, muito se falou de crise da produção francesa e, em particular, da sua colagem a modelos de raiz americana. Em boa verdade, face a estes trabalhos, a começar pelo fabuloso e desconcertante O Meu Tio da América (1980), o menos que se pode dizer é que Resnais viveu nessa época (mais) um período de espantosa vitalidade criativa.
Dir-se-ia que, sempre atento às imensas possibilidades de montagem que o cinema oferece, Resnais quis confrontar elementos provenientes de universos muito diferentes. No caso de O Meu Tio da América, esse confronto envolve uma teia melodramática e o próprio discurso científico (simbolizado pela presença de Henri Laborit, um analista das determinações do comportamento humano); em A Vida É um Romance (1983), trata-se de propor um ziguezague entre a Europa do começo do século XX e os tempos medievais; em Quero Ir para Casa (1989), viajamos através de uma teia de personagens marcadas pelas diferenças das culturas europeia e americana.
Dos cinco títulos, O Amor É Eterno (1984), no original L’Amour à Mort, ocupa um singularíssimo lugar na filmografia de Resnais: nele se propõe uma fábula, afinal muito realista, sobre a transcendência do amor e, mais especificamente, sobre a sua vida para além da morte. Isto porque, afinal, Resnais sempre foi um cineasta seduzido pela matriz melodramática. Se dúvidas ainda houver, veja-se ou reveja-se esse deslumbrante bailado de amores e desamores que se chama, muito simplesmente, Mélo (1986) [foto em cima, Fanny Ardant].
Resta lembrar o óbvio (mas também muitas vezes esquecido): Resnais é um invulgar director de actores, sabendo expor em cada um deles uma desconcertante "naturalidade", afinal produto de um labor exaustivo sobre a pose e a psicologia, o corpo e a palavra. Por estes filmes passam os fidelíssimos Sabine Azéma e Pierre Arditi e ainda, entre muitos outros, Gérard Depardieu, Fanny Ardant, Vittorio Gassman, André Dussollier e Geraldine Chaplin.
Agora, com esta preciosa edição de uma caixa com cinco filmes, podemos redescobri-lo e, acima de tudo, compreender como ele nunca deixou de ser um experimentalista paciente e ousado como poucos (a edição inclui sexto disco, só de extras, com uma entrevista audio com Resnais e um depoimento de João Mário Grilo). Estamos perante os cinco títulos que Resnais assinou ao longo da década de 80, numa época em que, pelas mais variadas razões, muito se falou de crise da produção francesa e, em particular, da sua colagem a modelos de raiz americana. Em boa verdade, face a estes trabalhos, a começar pelo fabuloso e desconcertante O Meu Tio da América (1980), o menos que se pode dizer é que Resnais viveu nessa época (mais) um período de espantosa vitalidade criativa.
Dir-se-ia que, sempre atento às imensas possibilidades de montagem que o cinema oferece, Resnais quis confrontar elementos provenientes de universos muito diferentes. No caso de O Meu Tio da América, esse confronto envolve uma teia melodramática e o próprio discurso científico (simbolizado pela presença de Henri Laborit, um analista das determinações do comportamento humano); em A Vida É um Romance (1983), trata-se de propor um ziguezague entre a Europa do começo do século XX e os tempos medievais; em Quero Ir para Casa (1989), viajamos através de uma teia de personagens marcadas pelas diferenças das culturas europeia e americana.
Dos cinco títulos, O Amor É Eterno (1984), no original L’Amour à Mort, ocupa um singularíssimo lugar na filmografia de Resnais: nele se propõe uma fábula, afinal muito realista, sobre a transcendência do amor e, mais especificamente, sobre a sua vida para além da morte. Isto porque, afinal, Resnais sempre foi um cineasta seduzido pela matriz melodramática. Se dúvidas ainda houver, veja-se ou reveja-se esse deslumbrante bailado de amores e desamores que se chama, muito simplesmente, Mélo (1986) [foto em cima, Fanny Ardant].
Resta lembrar o óbvio (mas também muitas vezes esquecido): Resnais é um invulgar director de actores, sabendo expor em cada um deles uma desconcertante "naturalidade", afinal produto de um labor exaustivo sobre a pose e a psicologia, o corpo e a palavra. Por estes filmes passam os fidelíssimos Sabine Azéma e Pierre Arditi e ainda, entre muitos outros, Gérard Depardieu, Fanny Ardant, Vittorio Gassman, André Dussollier e Geraldine Chaplin.