Bat For Lashes
“Fur and Gold”
Echo / EMI
4/5
Para ouvir: MySpace
Chromophobia, de Gui Boratto junta-se a This Bliss de Pantha du Prince e a From Here We Go Sublime para sublinhar um certo protagonismo que a pequena Kompakt Records está a ter em 2007, dentro do panorama electrónico, entenda-se. Como os dois parceiros de editora, Chromophobia (editado no mês de Abril) procura o muito pelo recurso ao pouco, propondo uma linguagem minimalista nos recursos e formas, mas plena de sentidos, caminhos e sugestões. Antes de mais, quem é Gui Boratto? É um músico, DJ e produtor brasileiro, nascido em São Paulo em 1974. A sua música, como a do seu compatriota Amon Tobin, escapa às “doutrinas” das genéticas musicais do seu país de origem e, dotada de um contemporâneo sentido de cosmopolitanismo digital, estabeleceu já pontes de relacionamento com inúmeros artistas e editores de outras latitudes. Gui Boratto começou a editar máxi-singles em 2005 e, com o seu irmão Tchorta gere hoje a editora Mega Music. Pela Kompact (através da qual editou os máxis Like You e Speicher 38 em 2006) apresenta agora um depoimento de grande fôlego que nele confirma um talento dotado de sentido melodista em muitas das suas composições. Sem a dimensão milimétrica de The Field nem o paisagismo sinfonista de Pantha du Prince, Gui Boratto opta essencialmente pela sugestão de patamares através dos quais, depois de estruturada a arquitectura rítmica (com evidentes fundações numa cultura house), brotam as melodias. Mais feitas de brilhos que de escuridão, estas composições sugerem dinâmicas às quais não é difícil associar noções de cor. Porém, é quando as cores ganham forma (como se escuta em The Blessing ou Acróstico) ou definem tapeçarias mais elaboradas (como em Mala Strana) que o disco chega ao nível dos dois outros de que se falava há pouco.
Gui Boratto
“Chromophobia”
Kompakt Records / Flur
3/5
Para ouvir: MySpace
Numa era de farta produção de electrónica, é fácil tropeçar na constatação (errada) de que é apenas por esses terrenos que se sugere hoje paisagismo ou formas de maior abstracção nos campos da música essencialmente instrumental. É evidente que não é todos os dias que entra em cena um From Gardens Where We Feel Secure (Virgínia Astley, 1983) ou um I Trawl The Megahertz (Paddy McAloon, 2003). Mas, para quem aprecia climas mais cénicos que destinos narrativos, Blue Trees pode ser uma boa sugestão. O disco é assinado pelo australiano Mick Turner, conhecido como guitarrista dos Dirty Three, e que, com o baterista Jim White (também dos Dirty Tree), forma os Tren Brothers. Juntos já acompanharam vozes como as de Cat Power ou Bonnie ‘Prince’ Billy. Aqui, juntos, entregam-se ao design de climas, ambientes, sem medo de neles traçar melodias, frequentemente assombradas. Na verdade, Blue Trees é um disco a meias, as seis primeiras faixas criadas pelos Tren Brothers, as seguintes sendo apenas assinadads por Mick Turner (que as interpreta, a solo, em gravações caseiras efectuadas entre Melburne e Chicago). Uma alma comum cruza ambas as “metades” do disco, cabendo porém à segunda (solista), a mais eficaz arrumação de ideias (mesmo por vezes envolvendo uma maior complexidade formal e de fontes de som, como acontece no espantoso Carny). Mais que uma construção de raiz, Blue Trees é uma colecção de aparentes “sobras”. Temas originalmente lançados em compilações, singles menos visíveis, convocando ao alinhamento um ou outro inédito. Curiosa, dada a solidez conceputal dos projectos aqui reunidos, a capacidade destas peças soltas se juntarem num todo consequente. A capa, como sempre, cabe a Turner (Mick, claro).
Mick Turner / Tren Brothers
“Blue Trees”
Drag City / Ananana
3/5
Para ouvir: MySpace de Mick Turner
Poderiam Paul McCartney e Ringo Starr gravar um disco novo e apresentá-lo como se fosse dos Beatles? Segundo o modelo que encontramos em Zeitgeist, sim... Zeitgeist corresponde à anunciada “reunião” dos Smashing Pumpkins (apesar de, na verdade, juntar apenas o vocalista ao baterista). E convenhamos que, apesar dos “milagres” que curaram desentendimentos antigos e juntaram já as formações originais de bandas como os Bauhaus ou Duran Duran, muita fé e crença seriam necessárias para pensar que D’Arcy e James Iha voltariam ao grupo que ajudaram a transformar num dos casos centrais do rock alternativo norte-americano dos anos 90. Mas a verdade é que sempre foi Billy Corgan quem ditou as regras. Pelo que, mesmo quase sendo este uma espécie de segundo disco seu a solo (sob companhia, criativa, do antigo parceiro Jimmy Chamberlain), surge nos escaparates sob o nome Smashing Pumpkins. Soa melhor, assegura apetites maiores... Ai a nostalgia de 90, que já é um facto! Num primeiro encontro, o som de Zeitgeist traduz uma série de marcas “clássicas” da memória dos melhores dias dos Smashing Pumpkins. Porém, faixa a faixa, constata-se que da infinita variedade de formas que fez de álbuns como Siamese Dreams ou Mellon Collie and The Infinite Sadness verdadeiras obras de referência do seu tempo, os Smashing Pumpkins de 2007 parecem querer apenas revisitar parte limitada do espectro de formas, vincando sobretudo uma cansativa insistência na sua faceta mais próxima do hard rock. A Zeitgeist falta o desafiante sentido de ornamentação de Siamese Dream e Mellon Collie ou a ousadia artística de Adore. Falta o desvario psicadélico, a verve pop, a capacidade de sugerir climas alternativos nas entrelinhas das guitarras. Bleeding The Orchid e Tarantula, os melhores momentos do disco, afloram dentro do quadro de referências clássicas do grupo. Mas o resto do alinhamento não parece mais que uma colecção de lados B, semelhantes entre si, ocasionalmente sugerindo pontuais fugas (como em Neverlost ou Pomp And Circunstances, aqui com a colaboração de um antigo parceiro dos Queen na produção). Ou seja, Paul e Ringo, mantenham-se calmos!
Smashing Pumpkins
“Zeitgeist”
Reprise / Warner
2/5
Para ouvir: MySpace
E a propósito de reuniões... Bom, há as falhadas (como a dos Smashing Pumpkins, entre muitas, muitas, muitas mais). E também as que nunca deveriam ter acontecido. E neste capítulo, a nomes como os Culture Club ou Eutythmics poderíamos juntar agora os Happy Mondays. Antes de mais, e se exceptuarmos alguns instantes na sua discografia (como o soberbo EP Madchester Rave On ou os magníficos singles Step On e Kinky Afro), os Happy Mondays foram a mais sobrevalorizada das bandas britânicas de finais de 80 e início de 90. A milhas de uns Stone Roses ou de uns Primal Scream (contemporâneos, nem todos de Manchester), ganharam visibilidade e fama mais pela encenação pueril de rebeldia rock’n’roll que pelos feitos musicais. De resto, depois de eleitos (por alguns, quase todos no Reino Unido) em 1990 com o álbum do ano mais feito de vácuo da história, afundaram-se (a si e à editora), em rota de caminho único apontado a um “saudável” rótulo onde se lia: “fim”... Shaun Ryder ainda inventou os Black Grape. Mas, como anunciou numa coluna de jornal, mesmo antes de avisar os restantes músicos, os Happy Mondays haveriam de voltar. Em palco vimo-los e foi deprimente... Agora, em disco, a coisa não é melhor. Insistindo na mesma culinária de Kinky Afro, mas sem canções à altura, Unkly Dysfunktional é um disco inconsequente, vazio. Uma verdadeira perda de tempo, sem ideia que brilhe, sem momento que cative.
Happy Mondays
“Unkle Dysfunktional”
Sequel / Edel
1/5
Para ouvir: MySpace
Também esta semana:
Prince, The Thrills, Lloyd Cole (BBC Sessions), Common
Brevemente:
30 de Julho: Motown Box – Vol 7 (singles de 1967), Love, Coral, Osvaldo Golijov, Richard Thompson
6 de Agosto: Kula Shaker, Dave Matthews & Tim Reynolds, Test Department, G Dudamel (Mahler), Ocean Colour Scene (best of), Terence Blanchard, Blue States, Stranglers (best of), Laurent Garnier
13 de Agosto: Siouxsie Sioux, Kanye West, Richard Hawley, Elvis Presley (reedições), Kosheen
Agosto: Anne Sofie Von Otter, Todd Rudgren, Debbie Harry, Fairport Convention, Architecture In Helsinki, Jim White
Setembro: Animal Collective, Lambchop, Mazgani, Go! Team, Múm, PJ Harvey, Clã
Estas datas podem ser alteradas pelas editoras a todo o momento