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Natural de Rhode Island (EUA), e com obra publicada desde 1965, McCarthy reflectiu frequentemente sobre a vida, história e alma americana, as suas gentes, comportamentos, hábitos, usando por vezes dispositivos como a proximidade de uma qualquer noção de fronteira para aí encontrar eventuais patamares de referência face ao que está, eventualmente, do lado de lá. N’A Estrada, o lado de lá é uma incógnita permanente, um constante silêncio que mete medo, vergando os r
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Esta é uma história sem uma única pista de tempo alguma vez sugerida, sem bem que a imaginemos num futuro não muito distante, depois de um qualquer cataclismo (natural ou provocado) ter destruído as estruturas da sociedade humana, a sua civilização e quase toda a vida sobre o planeta. McCarthy nunca define o lugar da acção, se bem que certas sugestões pontuais pareçam remeter para estradas perdidas no Tenessee (que já descrevera, em tempos, em Sutree). A demanda de um pai e um filho, cujos nomes nunca chegaremos a conhecer, é jornada sem um início nem, necessariamente, um fim. Em páginas assombradas por terrenos desolados, frio e constante sensação de desamparo e sob constante ameaça de “outros” que os possam usar como eventual repasto, pai e filho caminham, rumo a um mar que sabem a algumas semanas de distância. Uma caminhada em tons de cinzento, de palavras poucas, sem lamentos, ocasionalmente visitando a memória. Palavras de dúvida, medo e desencanto. Uma caminhada de dor, resignação, a morte sabendo-a inevitável, nem que usando as últimas balas que lhes restam na única pistola que carregam no seu cortejo a dois.
A Estrada é um romance relativamente curto, cuja escrita, simples, mas precisa e eficaz, transpira imagens expressivas, através das quais imaginamos uma caminhada para o fim de tudo. Visões de melancolia cinzenta que convocam memórias de, por exemplo, um Stalker, de Tarkovsky. Mas que, no cinema (em adaptação já em curso), terão brevemente de responder à câmara de John Hillcoat, a quem foi já entregue a realização desta adaptação.