Passaram nove anos sobre a estreia da ópera O Corvo Branco, que foi apenas apresenrada em Lisboa e Madrid, e ainda não houve qualquer edição (em disco ou DVD) da mesma. Está nos seus planos gravá-la?
O que se passa é que, hoje, a gravação de óperas já não é financiada por editoras. Mas eu continuo a gravá-las. E recentemente concluí até a gravação de The Voyage, que foi composta antes de O Corvo Branco. Ou seja, esperei 14 anos para o fazer… Quero começar a gravar O Corvo Branco brevemente. Primeiro as partes instrumentais e só depois os cantores. Vou precisar de uns dois anos antes de o poder fazer. Mas essa é uma ópera que considero como importante entre as que já fiz. E uma das razões pelas quais a quero gravar é o facto de quem nunca a viu poder querer ouvi-la. Ao saber da sua gravação, a notícia vai circular e a ópera deixará de ser um segredo. E espero que, depois, possa haver mais produções de O Corvo Branco.
Ter uma editora própria (a Orange Mountain Music) ajuda-o, assim, a fazer o que outras editoras hoje não podem fazer?
O negócio da música mudou. As editoras começam a enfrentar finalmente a necessidade de ter a música accesible por donwload, o que já fazemos há algum tempo. Vendo mais discos pela minha editora que pela Warner ou Sony. A grande vantagem é que, ao colocar um disco no meu catálogo, ele fica ali para sempre. Assim posso pensar num ciclo de vida mais longo para os discos (e as suas vendas). Noutras editoras, quando os discos não vendem, são descatalogados e desaparecem. Na minha visão, de longo prazo, posso pensar em termos de várias gerações. A mudança para companhias mais pequenas e independentes traz benifícios para o ouvinte e o compositor. Hoje, muita da minha música está disponível na Amazon ou no iTunes. E penso sempre assim ao editar um novo disco. Faço ainda CDs, porque ainda os posso vender. Mas penso prioritariamente nos downloads…
Através da sua própria editora tem colocado no mercado uma série de gravações antigas. Ou seja, pode colocar o seu arquivo pessoal, aos poucos, em disco…
Começámos agora a editar uma série de gravações a que chamámos “archival recordings” [gravações de arquivo], com peças que fui gravando nos anos 80 e 90, que vamos colocar no mercado. Nos anos 90 reparei que tinha as fitas de muitas gravações da minha música e resolvi começar a editá-las. São discos fáceis de fazer, porque já tenho as gravações. E podem interessar a quem goste de música. Em poucos anos de actividade, a editora chegou aos 40 títulos. Espero poder duplicar esse número.
Mantém relacionamentos com outras editoras?
Recentemente falei com o director da Nonesuch, de quem sou amigo. Ele disse-me que para cada artista só pode gravar editar um disco por ano. Ao passo que eu posso, por mim, lançar uns seis ou sete! Ele riu-se e disse não o podia fazer, mas que comprendía o que eu estava a fazer. Estou a tentar criar um legado musical, que Quero preservar para as gentes do futuro. Para mim é muito importante poder actuar desta maneira.
Há anos que a Nonesuch fala da eventual edição de uma caixa de gravações suas...
Vão lançar uma caixa de dez CD. Estamos a trabalhar nela neste momento. Temos uma boa relação, apesar dos objectivos das nossas editoras serem diferentes! Na minha editora sou o compositor, mas também o publisher.
Este ano uma das suas edições na OMM, o The Witches Of Venice, surge de uma gravação de arquivo sua…
Aí está mais um ejemplo de algo que veio do meu arquivo pessoal. Essa gravação estava feita há uns dez anos! Foi feita para um evento em Milão, no Scala… E só recentemente reparámos que eu era o dono da gravação e que tinha as fitas comigo! A série “archival recordings”, que agora iniciei, também creio que vai revelar coisas interessantes. De há uns anos para cá comecei a juntar as fitas e a guardá-las. Agora dou-lhes uso.
sexta-feira, junho 29, 2007
Em conversa: Philip Glass (3)
Conclusão, hoje, da versão integral de uma entrevista apresentada, em forma editada, na edição de 23 de Junho do DN: