sexta-feira, junho 29, 2007

Para assustar os monstros

Ano Bowie – 52
‘Scarry Monsters’ – Álbum, 1980



Depois de umas férias de neve na Suíça, com o filho Joe, David Bowie voou para Nova Iorque. Fevereiro de 1980. Duas semanas de primeiros trabalhos nos estúdios Power Station, com Tony Visconti novamente na produção, revelaram o compromisso de Bowie em registar um álbum claramente menos experimental que os anteriores. O processo de construção das canções, que depois teve continuidade em Londres, mostrou igualmente uma vontade de fugir aos espaços de maior improvisação vocal e narrativa dos últimos quatro álbuns, revelando-se Scarry Monsters o seu disco de canções mais meticulosamente elaboradas desde Young Americans, cinco anos antes. Contando entre os parceiros de trabalho nomes como os de Robert Fripp e Pete Townshend, o álbum reflecte um sentido de versatilidade considerável, demonstrando vontade em caminhar além dos princípios ensaiados na trilogia Low / Heroes /Lodger, contudo sem a renegar. De resto, este é claramente um álbum charneira, um disco que congrega uma súmula de feitos e conquistas (sobretudo recrutando elementos na segunda metade de 70) e que, ao mesmo tempo, se mostra atento ao mundo em mudança e à nova década que se anunciava. Eleito como “guru” pela emergente cena neo-romântica, David Bowie via o single de avanço do álbun, Ashes to Ashes, ser apontado como o cartão de entrada na nova década. Coube, todavia a Fashion, o papel de hino da nova geração de admiradores, com gosto trabalhado em sucessivas Bowie Nights que então se espalhavam, depois de Londres e Birmingham, um pouco por toda a Europa. Editado em Setembro de 1980, o álbum revelou-se o disco comercialmente mais bem sucedido de Bowie desde Young Americans, tendo somado um número um em Inglaterra (Ashes To Ashes, cujo pierrot do teledisco de David Malett deu, depois, sugestão para a capa do próprio álbum) e mais três singles top 40 (Scarry Monsters, Fashion e Up The Hills Backwards). Entre originais de Bowie, uma versão de Kingdom Come, de Tom Verlaine. Se a esta juntarmos as palavras de abertura do disco, em japonês, por Michi Hirota, verificamos como, uma vez mais, Bowie consegue o feito de sedução do grande público, sem evitar trazer à sua música frestas menos pop(ulares) do seu gosto pessoal.