Texto publicado no Diário de Notícias (revista "NS", 23 de Julho) com o título 'Ser ou não ser americano' >>> Os extras que acompanham os dois filmes de Clint Eastwood sobre a Segunda Guerra Mundial no Pacífico não são propriamente originais em relação ao modelo que aplicam. Que é como quem diz: no essencial (sobretudo no caso de As Bandeiras dos Nossos Pais, em que ocupam um segundo disco) temos uma série de fragmentos temáticos (os heróis, a bandeira, etc.) unidos por um enorme depoimento do próprio Clint Eastwood. Mas é também esse “convencionalismo” que faz destes extras um interessantíssimo complemento para nos ajudar a percorrer ambos os filmes.
De facto, as palavras de Clint Eastwood (e, em particular, o modo quase didáctico através do qual nos dá a conhecer a gestação deste projecto duplo) situam-nos face a duas questões fundamentais: em primeiro lugar, tratava-se de revisitar a história da guerra através de abordagens que superassem as convenções do tradicional “filme de guerra”; depois, importava abrir o imaginário made in USA ao confronto com outras personagens e outras sensibilidades.
Como é óbvio, este último aspecto exprime-se de modo particularmente intenso em Cartas de Iwo Jima [na foto], uma vez que o filme aborda o “outro lado” da guerra: num contraponto fascinante, Eastwood vira-se para o universo dos soldados japoneses, descobrindo uma mesma tragédia na sua cruel simetria (e é também admirável como o realizador, sem saber uma palavra de japonês, consegue dirigir os seus actores de forma tão subtil e acutilante).
Em todo o caso, importa também lembrar que As Bandeiras dos Nossos Pais está longe de ser um mero sucedâneo dos muitos filmes que, sobretudo nas décadas de 40/50, Hollywood dedicou à Segunda Guerra Mundial. Isto porque a sua acção se organiza a partir de um objecto muito peculiar, isto é, uma fotografia. Eastwood parte da lendária imagem obtida por Joe Rosenthal, mostrando seis soldados a erguer a bandeira dos EUA no topo do Monte Suribachi, na ilha de Iwo Jima: seguindo, depois, os sobreviventes dessa fotografia e, em particular, a sua utilização como símbolos de propaganda, As Bandeiras dos Nossos Pais resulta um estranho requiem sobre a solidão individual num contexto de tão premente mobilização colectiva.
Valerá a pena recordar que Clint Eastwood dirige filmes há quase quatro décadas (a sua primeira longa-metragem como realizador, Play Misty for Me/Destinos nas Trevas, data de 1971). Para além dos altos e baixos de cerca de três dezenas de títulos com a sua assinatura, o seu labor sempre passou por uma interrogação identitária. Ou seja: que significa ser americano? As Bandeiras dos Nossos Pais e Cartas de Iwo Jima são uma das mais belas concretizações desse programa cinematográfico e, inseparavelmente, político, simbólico e afectivo.
De facto, as palavras de Clint Eastwood (e, em particular, o modo quase didáctico através do qual nos dá a conhecer a gestação deste projecto duplo) situam-nos face a duas questões fundamentais: em primeiro lugar, tratava-se de revisitar a história da guerra através de abordagens que superassem as convenções do tradicional “filme de guerra”; depois, importava abrir o imaginário made in USA ao confronto com outras personagens e outras sensibilidades.
Como é óbvio, este último aspecto exprime-se de modo particularmente intenso em Cartas de Iwo Jima [na foto], uma vez que o filme aborda o “outro lado” da guerra: num contraponto fascinante, Eastwood vira-se para o universo dos soldados japoneses, descobrindo uma mesma tragédia na sua cruel simetria (e é também admirável como o realizador, sem saber uma palavra de japonês, consegue dirigir os seus actores de forma tão subtil e acutilante).
Em todo o caso, importa também lembrar que As Bandeiras dos Nossos Pais está longe de ser um mero sucedâneo dos muitos filmes que, sobretudo nas décadas de 40/50, Hollywood dedicou à Segunda Guerra Mundial. Isto porque a sua acção se organiza a partir de um objecto muito peculiar, isto é, uma fotografia. Eastwood parte da lendária imagem obtida por Joe Rosenthal, mostrando seis soldados a erguer a bandeira dos EUA no topo do Monte Suribachi, na ilha de Iwo Jima: seguindo, depois, os sobreviventes dessa fotografia e, em particular, a sua utilização como símbolos de propaganda, As Bandeiras dos Nossos Pais resulta um estranho requiem sobre a solidão individual num contexto de tão premente mobilização colectiva.
Valerá a pena recordar que Clint Eastwood dirige filmes há quase quatro décadas (a sua primeira longa-metragem como realizador, Play Misty for Me/Destinos nas Trevas, data de 1971). Para além dos altos e baixos de cerca de três dezenas de títulos com a sua assinatura, o seu labor sempre passou por uma interrogação identitária. Ou seja: que significa ser americano? As Bandeiras dos Nossos Pais e Cartas de Iwo Jima são uma das mais belas concretizações desse programa cinematográfico e, inseparavelmente, político, simbólico e afectivo.