Nikolaus Harnoncourt / Haydn, Orlando Paladino (Deutsche Harmonia Mundi, 2006) >>> Como símbolo perfeito da era clássica, a obra de Joseph Haydn (1732-1809) terá na ópera Orlando Paladino uma espécie de desvio bizarro, e bizarramente irónico. Isso mesmo recorda Nikolaus Harnoncourt quando, num breve texto de apresentação, se refere à “aliança do patético e da ironia”, sublinhando ainda que se trata de “uma paródia que coloca o melómano perante um espelho implacável”. Dirigindo o seu Concentus Musicus Wien, Harnoncourt conta com um precioso elenco de vozes, dominado por Patricia Petibon (soprano) e Christian Gerhaher (barítono), para uma interpretação, também ela, tecida de minuciosas ambivalências: assim, a exuberância dos contrastes afectivos encontra expressão numa finesse a que, ainda por ironia, apetece chamar neutra. Afinal de contas, esta música e este canto celebram a impossível neutralidade de todas as emoções humanas.
(Texto publicado na revista Op, # 22, Primavera 2007)