É verdade: ela canta. E não propriamente de forma banal. Ora escutem — e vejam.O tema chama-se Look Up e pertence ao primeiro registo discográfico de Toni Collette, com a sua banda The Finish (formada pelo marido, Dave Galafassi, e ainda Glenn Richards, David Lane
e Pete Farley). Lançado na Austrália em Outubro de 2006 — recorde-se que Toni Collette é australiana, nascida em Sydney, a 1 de Novembro de 1972 —, o álbum dá pelo nome de Beautiful Awkward Pictures e tem chancela da etiqueta Hoola Hoop Records. Com onze temas, todos compostos pela própria Collette, trata-se de um trabalho de impecável solidez musical, liderado por uma voz densa, seguríssima e de muitas e surpreendentes nuances dramáticas. Pelo menos, são essas impressões que ficam quando consultamos os sons disponíveis no site da banda, ou ainda as três canções colocadas no seu espaço no MySpace.
Afinal de contas, estamos a falar de alguém cuja prodigiosa versatilidade a distingue como uma das maiores actrizes contemporâneas. Era ela a mãe de Haley Joel Osment, em O Sexto Sentido (1999), de M. Night Shyamalan: a espantosa sequência de diálogo no carro, quando o filho evoca a avó [foto], bastaria para testemunhar o invulgar talento de Collette. Vimo-la em composições modelares em filmes como O Casamento de Muriel (1995), de P. J. Hogan (produção australiana que a projectou internacionalmente), Velvet Goldmine (1998), de Todd Haynes, Era uma Vez um Rapaz (2002), de Chris e Paul Weitz, As Horas (2002), de Stephen Daldry, e Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos (2006), de Jonathan Dayton e Valerie Faris.Beautiful Awkward Pictures corresponde a uma sensibilidade genuinamente pop, atraída tanto pela dureza mais tradicional do puro rock como pela riqueza (não menos tradicional) de um romanesco quase lírico. É isso mesmo que encontramos na canção que dá o título ao álbum. Com este belíssimo refrão:
Beautiful awkward pictures
That stay in your mind & linger
Beautiful awkward pictures
That you take with your eyes & fingers
O teledisco está aqui — e é, além de tudo o mais, um notável exercício de assombrada continuidade (muito cinematográfica), com assinatura de Paul Goldman e Alice Bell, respectivamente realizador e argumentista de Suburban Mayhem (2006), recente fenómeno da produção australiana.